Resumo: Filiados à Análise do Discurso de linha francesa, teoria que propõe a análise dos processos de constituição dos sentidos e dos sujeitos, buscamos através deste trabalho atingir os sentidos presentes no discurso sobre o índio Karajá, considerando que há uma relação constitutiva entre o dizer e sua exterioridade. Para isso, tomamos para análise alguns enunciados produzidos por três gerações de moradores do município de Luciara-MT, já que eles viveram momentos e modos diferentes de contato. Acreditamos que este método de ler os seus dizeres sobre o índio nos possibilita perceber como estão produzindo sentidos historicamente. Detivemos nosso olhar na negação, nos enunciados divididos e na comparação, já que são vestígios presentes em muitas seqüências discursivas do corpus que analisamos e um estudo sobre estes funcionamentos contribui para a nossa compreensão sobre o modo como estas gerações tecem o seu discurso sobre o índio Karajá. Além disso, levantamos os estereótipos presentes nesse discurso. Se, por um lado, pudemos observar o quanto se repetem e se impõem os sentidos carregados de negatividade, que excluem o índio, por outro, percebemos sutis fissuras nesse discurso em que sentidos diferentes disputam este espaço de significações. O que, ao nosso ver, aponta para o fato de que temos um deslocamento discursivo, sintoma de que não estamos fadados à reprodução e à fixidez dos sentidos