A antologia Délia, contos esquecidos, reúne vinte e dois contos da obra de Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida na imprensa do século XIX pelo seu pseudônimo Délia. Ela foi uma importante escritora brasileira, cujos textos apareciam em jornais e folhetins, além de produzir pequenos contos. Para a autora, o pseudônimo servia tanto como ferramenta de anonimato quanto como elemento de suspense, segundo o capítulo de introdução do livro. A coleção de textos, editados pela Asa da Palavra, foi o objeto de estudo de Laila Thaís Correa e Silva, doutora em História Social pela Unicamp e especialista no assunto, que organizou e preparou os contos presentes na obra. A pesquisadora destaca na abertura do livro a importância de pesquisas que propiciem a redescoberta de textos e histórias que merecem ser incorporadas às discussões atuais, sendo um dos exemplos destacados os escritos de mulheres que permanecem apagadas dentro da academia. 

Alguns dos temas abordados na obra de Délia giram em torno do feminismo, da sexualidade feminina, da violência doméstica contra a mulher e do lesbianismo. Outras questões trazidas pela autora são o preconceito racial e a exploração da mulher escravizada. Além de Délia ter sido uma escritora dos principais jornais cariocas, como Gazeta da Tarde, O Paiz e a Gazeta de Notícias, seus textos também eram publicados por jornais femininos, como A Família. Apesar de escrever contos de tamanhos pequenos que eram publicados principalmente em rodapés de jornais cariocas na segunda metade do século XIX, Délia realizou uma extensa produção literária, que continua pouco editada. Em suas narrativas, a autora gaúcha geralmente escrevia narrativas centradas em personagens mulheres com personalidade e razões fortes o suficiente para confrontar os preconceitos e as limitações impostas à mulher de fins do século XIX. 

Em Délia, contos esquecidos estão reunidos os seguintes contos da escritora: “O’Bella Napoli”, “A Espera”, “A Suicida”, “A estátua de neve”, “Mater dolorosa”, “A pérola da Bethania”, “Sensitiva”, “Sempre a miragem”, “A avó”, “A Caprichosa”, “Um bom momento”, “Um pouco de passado”, “As rivais”, “O encontro”, “Nevrose”, “Amor e vilania”, “Os primos”, “Não olvidada”, “Therezita”, “Metamorfose”, “Madame Z” e “Triste reverso”. Além disso, a obra também contém introdução e notas da organizadora Correa e Silva com base em sua tese de doutorado: Dos projetos literários dos ‘homens de letras’ à literatura combativa das mulheres de letras: imprensa, literatura e gênero no Brasil de fins do século XIX. 

Não deixe de dar voz a Délia ao ler os seus contos na antologia que pode ser encontrada no site de publicações do IEL. Acesse aqui e baixe gratuitamente.

Por João Lucas Schveiguert Zampieri