Resumo

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ICH KANN MEIN NAME MIT LETRA JUNTA UND LETRA SOLTA SCHREIBEN: BILINGUISMO E LETRAMENTO EM UMA ESCOLA RURAL LOCALIZADA EM ZONA DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO SUL DO BRASIL

MARISTELA PEREIRA FRITZEN

Orientador(a): Marilda do Couto Cavalcanti

Doutorado em Linguística Aplicada - 2007

Nro. chamada: T/UNICAMP - F919I


Resumo:
O presente estudo de cunho etnográfico (Erickson, 1984, 1986, 1988; Winkin, 1998; Ely, 1991; Mason, 1996) descreve o cenário sociolingüístico de uma escola rural multisseriada localizada em contexto bilíngüe (alemão/português) de línguas minoritárias, no município de Blumenau, Santa Catarina, e analisa as práticas sociais de leitura e de escrita construídas em sala de aula. Em consonância com a metodologia da pesquisa etnográfica e interpretativista (Erickson, 1986; Moita Lopes, 1994), os registros foram gerados por meio de observação participante continuada durante um semestre na escola alvo da pesquisa, anotações de campo reelaboradas em diários, conversas informais, entrevistas, gravações de áudio e vídeo de aulas típicas (Erickson, 1986), coleta de documentos, bem como participação em diversos eventos promovidos pela escola ou por outras instituições sociais da comunidade, como igreja e sociedade recreativa. A análise proposta neste estudo ampara-se teoricamente (i) no bilingüismo como fenômeno social e no campo da educação bilíngüe para minorias (Grosjean, 1982; Romaine, 1995; Hamel, 1989, 2003; Cavalcanti, 1999, 2001; Maher, 1996; Martin-Jones, 1990; 1998, s/d; Martin-Jones e Jones, 2000; Freeman, 1998; Hornberger, 2003) ao focalizar o cenário sociolingüisticamente complexo (Cavalcanti, 1999); (ii) na Sociolingüística Interacional (Gumperz, 1982, 1991, 2002; Auer, 1990, 1998, 2007; Gafaranga, 2007; Philips, 2002; Goffman, 2002, entre outros) e na Etnografia Educacional (Erickson, 1982, 1996), ao abordar a relação de contato/conflito entre as línguas no contexto pesquisado e na sala de aula; (iii) nos Estudos Culturais (Hall, 2000, 2003; Silva, 2000, 2007) e na Sociologia (Bauman, 2003, 2005), ao discutir questões de língua e identidade; (iv) nos Novos Estudos do Letramento (Street, 1995, 2000, 2003; Barton e Hamilton, 1998; Heath, 1983; Kleiman, 1995, 2001, 2004), ao tratar dos eventos de letramento que têm lugar na escola; e (v) nos estudos bakhtinianos de gêneros do discurso (Bakhtin, 1997, 2004), ao enfocar os gêneros do discurso que circulam na sala de aula. As reflexões sobre os conceitos de língua e identidade apoiaram-se ainda nas discussões de Cavalcanti e César (2007) e de Rajagopalan (1998, 2006). Os resultados sugerem que o alemão como língua de herança é hoje ainda a língua de interação do grupo pesquisado e que as tensões e conflitos lingüísticos existentes na sociedade atingem a escola, seja no posicionamento das professoras outsiders, marcado pelo preconceito com relação às línguas do grupo étnico-lingüístico (brasileiro e alemão do grupo), seja nas atitudes das professoras insiders, que revelam solidariedade ao grupo, seja ainda no prestígio que as línguas hegemônicas (especialmente o português como língua de instrução) desfrutam na instituição escolar, em detrimento da estigmatização das línguas minoritárias (alemão do grupo e brasileiro). O emprego do alemão das crianças na sala de aula fica, dessa forma, restrito a interações face a face entre os alunos, refletindo negativamente na educação oferecida às crianças bilíngües. As práticas de leitura e de escrita, por sua vez, que se desenrolaram nesse cenário repleto de conflitos lingüísticos e identitários, revelam um tratamento neutro à escrita, desvinculado das práticas culturais de leitura e de escrita que têm lugar em diferentes contextos. Os registros sugerem, assim, que as atividades de leitura e de escrita em sala de aula não dialogam com os usos sociais dessas práticas feitas pelo grupo em estudo. Em resumo, o modelo de letramento que subjaz aos procedimentros didáticos registrados nas aulas observadas é o modelo autônomo de letramento (Street, 1995). No tocante às contribuições da presente pesquisa, (i) a descrição dos usos das línguas na escola e no grupo social investigado, (ii) a descrição das interações em sala de aula e das ações pedagógicas com relação à leitura e à escrita, além (iii) da problematização dos discursos hegemônicos referentes aos grupos teuto-brasileiros e às suas línguas permitem visibilizar a complexidade do contexto teuto-brasileiro pesquisado, além de poderem trazer subsídios importantes para a formação de professores e de professores em serviço a fim de que os direitos lingüísticos dessas crianças bilíngües sejam reconhecidos e de que elas tenham, portanto, acesso ao letramento em português e alemão via escolarização.

Palavras-chave: Bilingüismo; Letramento; Minorias lingüísticas; Identidade; Interação social.

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