Resumo

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LOBATO E OS CARRASCOS CIVILIZADOS: CONSTRUÇÃO DE BRASILIDADE VIA REESCRITURA DE WARHAFTIGE HISTORIA, DE HANS STADEN

VANETE DUTRA SANTANA

Orientador(a): Carmen Zink Bolognini

Doutorado em Linguística Aplicada - 2007

Nro. chamada: T/UNICAMP - Sa59L


Resumo:
Até recentemente, parece ter sido natural a representação das culturas de regiões periféricas como um refletor das idéias forjadas na cultura dominante, a européia. Assim, o que foi produzido pelos europeus sobre a América Latina tem sido considerado verdade absoluta, como a imagem criada por Hans Staden, aventureiro alemão do século XVI, sobre o Brasil em seu livro Zwei Reisen nach Brasilien (Duas viagens ao Brasil), e reforçada pelo viajante alemão do século XIX Robert Avé-Lallemant em sua adaptação Hans Staden von Homberg bei den brasilienischen Wilden oder die Macht des Glaubens und Betens (Hans Staden, de Homberg, com os selvagens brasileiros ou o poder da fé e da oração). Uma vez que Staden afirmou estar contando a verdadeira história de um país de selvagens nus e canibais chamado Brasil, o Brasil passou a ser visto – e, devido à absorção de idéias eurocêntricas, tem sido representado inclusive no imaginário nacional – como uma terra exótica, onde cobras e selvagens enfeitados com penas se misturam pelas ruas, sem se questionar o objeto das observações de Staden. O Brasil, ou o que podemos chamar Brasil, é uma criação do século XIX, portanto o que Staden falou a respeito das terras onde esteve na segunda metade do século XVI só pode servir para se referir àquelas terras naquela época, quando não havia nem unidade territorial, nem cultural, nem autonomia política que pudesse caracterizar o que chamamos Brasil. Porém, a despeito de a contestação do eurocentrismo ser um fenômeno pós-moderno, já havia no Brasil do início do século XX uma intelligentisia disposta a contestar o modelo eurocêntrico de representação de nosso país. Um caso exemplar dessa contestação pode ser encontrado na adaptação que Monteiro Lobato, intelectual e empreendedor, fez do livro de Staden ao desconstruir a imagem do bom-europeu apresentando a verdadeira história de Staden a partir da perspectiva de integrantes da tribo tupinambá (tribo de índios que habitava o litoral da região sudeste do atual Brasil e da qual Staden foi prisioneiro). De herói branco – imagem auto-construída e reforçada ao longo de séculos –, Staden passa a ser apresentado por Lobato como um covarde que só escapou de ser devorado em um ritual antropofágico por chorar e implorar a seu Deus que salvasse sua vida. Considerando esse corpus e tendo como pano de fundo suas condições de produção, procuramos demonstrar como as relações inter-culturais entre Brasil e Europa foram recontextualizadas pelo escritor brasileiro, abrindo espaço para o questionamento das idéias eurocêntricas e para uma reflexão nacional – brasileira – sobre si próprio – o brasileiro – e seu país – o Brasil –, no sentido de construir uma identidade brasileira. Nosso objetivo específico foi mostrar como o interesse de Lobato ao recontar a história de Staden a partir de sua perspectiva não-eurocêntrica, desconstruindo a imagem do bom-europeu e valorizando a cultura indígena, faria parte de um projeto maior, relacionado à sua atuação no mercado editorial e na política, que teria por finalidade construir uma certa brasilidade por meio da absorção não passiva (adaptação aos interesses locais) da cultura universal – algo semelhante ao que Goethe e os românticos alemães fizeram visando à construção da germanidade (Deutschheit). Como abordamos a construção de identidade a partir de uma perspectiva lingüística e como a língua é um dos elementos fundamentais da cultura, estendemo-nos a outros temas, tais como o processo de formação da língua portuguesa falada no Brasil e da nação brasileira, considerando os grupos raciais, culturais e lingüísticos que a compuseram, bem como alguns aspectos históricos, políticos e econômicos envolvidos.

Palavras-chave: Monteiro Lobato - Crítica e interpretação; Staden, Hans, ca.1525-ca.1576 - Crítica e interpretação; Ave-Lallemant, Robert, 1812-1884; Eurocentrismo; Desconstrução.

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