Resumo: O tema central deste trabalho é a glossolalia. Chamada também de ‘língua estranha’, ‘língua bárbara’, ‘falar em línguas’, ‘falar extático’, ‘neolíngua’. Classificadas como fenômeno religioso, patológico, mágico, demoníaco, lúdico ou artístico. Proponho refletir sobre esta produção vocal a partir das seguintes questões: o que pode ser uma fala sem língua? porque classificá-la de diferentes formas? o que a faz semblante de língua? nos estudos da linguagem, qual a ligação entre som e sentido? porque um sujeito insiste, apesar das advertências contra sua prática, em falar sem absolutamente nada dizer? Estas questões serão estudadas tendo como referência um material gravado – e vendido – em uma paróquia da Renovação Carismática em que um de seus membros realiza um seminário sobre o ‘dom de línguas’ e ao final faz uma oração em línguas. A perspectiva psicanalítica lacaniana funda a análise dos dados. Utilizo também estudos realizados no campo da lingüística. Pretendo demonstrar com esta tese que o que move este sujeito a ‘falar para não dizer nada’ é a busca, por meio da pura performance da fala, do gozo interdito que a língua configura.
Palavras-chave: Glossolalia; Psicanálise; Línguas; Fala; Voz.