Resumo

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EU FUI E FIZ ESSA TESE : AS CONSTRUÇOES DO TIPO FOI FEZ NO PORTUGUÊS DO BRASIL

ANGELICA TEREZINHA CARMO RODRIGUES

Orientador(a): Maria Luiza Braga

Doutorado em Linguística - 2006

Nro. chamada: T/UNICAMP - R618e


Resumo:
Na presente tese, investigo as “construções do tipo foi fez”, doravante CFFs, presentes na modalidade falada do Português do Brasil (PB). Essas construções apresentam propriedades morfossintáticas bem definidas, além de desempenharem um papel particular na situação de fala. Esta tese, desenvolvida sob o paradigma do funcionalismo lingüístico (vertente americana), se baseia em dados oriundos de amostras reais de fala, coletadas a partir do banco de dados constituído por pesquisadores e bolsistas do Projeto PEUL da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para sustentar minhas hipóteses e examinar alguns fatores tradicionalmente utilizados nas pesquisas sociolingüísticas, trabalhei com 16 grupos de fatores que foram operacionalizados através do pacote VARBRUL, principalmente dos programas MAKECELL e CROSSTAB. As CFFs se formam a partir de uma seqüência mínima de V1 e V2, em que V1 corresponde a um dos verbos ir, chegar e pegar e V2 é relativamente livre. Essas construções podem ocorrer sob a forma de dois tipos distintos. No tipo 1, V1 e V2 são interligados pela conjunção e. No tipo 2, V1 e V2 apenas se justapõem. Ademais, V1 e V2 partilham flexões de tempo e pessoa e têm sujeitos correferenciais. Quanto à sua função, as CFFs atuam no nível discursivo-pragmático, na medida em que V1 dramatiza ou enfatiza os eventos descritos em V2. Uma vez que, além das propriedades exclusivas de sua categoria, apresentam ainda outras que são compartilhadas por diferentes tipos de construções, as CFFs não se encaixam no modelo clássico de categorização. Propus que apenas um modelo mais flexível, como aquele que prevê a existência de semelhança de famílias e de protótipos, é adequado para dar conta dos dados. Embora as CFFs possam ser concebidas como um membro de um continuum de construções de predicação complexa, com ocorrência em várias línguas, no que se restringe ao PB, as CFFs permanecem distintas de todos os outros tipos de construções. Tendo em vista as mudanças sofridas por ir, chegar e pegar que levaram ao desenvolvimento das CFFs, atesto que esses verbos percorrem os mesmos estágios iniciais previstos nos processos de gramaticalização, sem que, no entanto, tenham adquirido uma função gramatical prototípica, como tempo, aspecto e modo, mas sim uma função pragmática. Ao considerar que os verbos ir, chegar e pegar se gramaticalizaram, dando origem às CFFs, deixo claro que esses verbos exercem, nessas construções, uma função diversa daquelas originalmente previstas nos estudos de gramaticalização.

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