Resumo

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MOVIMENTOS DE SENTIDOS NAS ADIVINHAS, OS: UM ESTUDO ENUNCIATIVO

DANIELA MARINI-IWAMOTO

Orientador(a): Rosa Attie Figueira

Doutorado em Linguística - 2006

Nro. chamada: T/UNICAMP - M338m


Resumo:
Esta tese tem por objetivo analisar os movimentos de sentidos nos jogos verbais conhecidos como adivinhas ou adivinhações. A partir de um alargamento do corpus e da bibliografia iniciais utilizados em trabalho anterior (Marini, 1999, dissertação de mestrado), procuramos entender o funcionamento semântico do jogo para, a partir de então, poder lançar uma hipótese, de caráter mais geral, sobre o funcionamento da língua e da linguagem, no que diz respeito a processos de significação. Entretanto, apesar de, neste momento, termos voltado nosso olhar para o processo da significação, não pudemos deixar de considerar também aspectos novos no tratamento das adivinhas, que foram sendo descobertos ao longo de nossa pesquisa. Desse modo, nosso trabalho apresentar-se-á em duas partes: A parte I, através do capítulo I, tratará dessas novas descobertas que, podemos dizer, dão continuidade ao trabalho iniciado em nossa dissertação de mestrado, cujo objetivo era descrever a estrutura formal do jogo. Após a análise (e reflexão) das funções sociais que o jogo pode assumir em determinada cultura, as características formais propostas como traços definidores do gênero das adivinhas sofrerão uma reformulação. A função lúdica, proposta na dissertação de mestrado, não poderá ser mais considerada a única função do jogo. A parte II da tese procurou lançar um olhar sobre o funcionamento da significação nos jogos verbais, particularmente no caso daqueles que conhecemos por adivinhas ou adivinhações, a partir de duas descrições estruturais encontradas em estudos de etnologistas e folcloristas (Abrahams, 1968; Amaral, 1948), expostas no capítulo II. Estas descrições afirmavam traços de referencialidade e de definição no jogo, os quais nos pareceram inadequados para dar conta dos sentidos que a adivinha mobiliza. Apesar disso, essas duas propostas foram fundamentais para que pudéssemos dar início a nossa investigação, pois, através dos equívocos que lhes atribuímos ao descrever a estrutura do jogo, tivemos a oportunidade de operar com a ilusão que estava por trás desses dois pontos de vista: a de que a o jogo refletiria nada mais que um funcionamento transparente e unívoco da língua e da linguagem. A partir daí, saímos ao encalço de uma teoria que fornecesse uma explicação para tal ilusão e que nos munisse de um instrumental descritivo apto a descrever adequadamente o funcionamento do jogo, no que tange aos movimentos de sentidos. Em nosso percurso, encontram-se teorias como a Semântica do Protótipo e do Estereótipo, as quais procuram explicar fenômenos de categorização e que foram evocadas pela suposição de que as adivinhas fariam parte de um modo particular de se categorizar o mundo. Essa hipótese surge a partir de estudos que conferem um caráter de definição e de referencialidade ao jogo, e que acreditavam ser a adivinha uma descrição peculiar a partir da qual se tentaria encontrar um referente. A apresentação das Teorias do Protótipo e do Estereótipo foi de extrema importância para que, a partir delas, pudéssemos rejeitar essa hipótese e procurar uma teoria que tratasse a significação nas adivinhas de uma outra maneira. No capítulo III, apresentaremos um panorama geral das Teorias da Enunciação e definiremos conceitos imprescindíveis para nossas análises como enunciação, enunciado, sujeito. A Semântica do Acontecimento, assim como seu constante diálogo com a Análise do Discurso de linha francesa, possibilitou-nos analisar as adivinhas a partir de uma perspectiva nova, na qual o jogo é considerado como um dispositivo interpretativo da língua. Ao ser apresentado à pergunta do jogo, o interlocutor desafiado a desvendar a resposta depara-se com um enunciado particular, para o qual ele fará uma tentativa de interpretação. Essa interpretação evocará um ou mais sentidos, os quais serão legitimados ou descartados a partir do enunciado da resposta, revelada pelo interlocutor desafiante. Caberá ao desafiado, então, reinterpretar a pergunta para que esta dê conta de acomodar o sentido da resposta. A esses dois movimentos da configuração de sentidos chamá-los-emos de movimentos de interpretação e reinterpretação. O capítulo IV trará essa nova contribuição, em que a significação passa necessariamente a ser vista como efeito do trabalho da memória no acontecimento enunciativo. A partir dessa abordagem, analisaremos nosso corpus e observaremos como os diversos sentidos evocados pelas adivinhas são, na verdade, rememoração de enunciações já produzidas. A conclusão de nosso trabalho espera validar a hipótese de que os jogos verbais, especialmente as adivinhas, funcionam exatamente a partir da ilusão subjetiva de que há uma estabilidade inabalável no sentido das palavras, ilusão essa que também impera sobre o funcionamento da língua e da linguagem.

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