Resumo: Neste trabalho se procurou fazer uma leitura e uma análise do Lampadário de Cristal, de Jerónimo Baía, por meio da recuperação de categorias letradas contemporâneas ao poema. Além do trabalho de explicitação das referências do costume letrado antigo presentes no poema, a leitura se preocupou em evitar categorias anacrônicas, como expressão e originalidade, em favor de outras, como elocução aguda e emulação. Fez-se também um esforço para evitar a utilização de rótulos aplicados pela história literária ao período em questão - grosso modo, o século XVII. Seguindo a recusa intransigente declarada pelos tratadistas do século XVIII português, como Verney e Cândido Lusitano, a crítica literária posterior permaneceu impugnando a poesia aguda como degeneração do bom costume dos poetas quinhentistas. No século XX essa poesia foi gradualmente reposta em circulação e essa leitura é tributária dessa recuperação. À luz de categorias franqueadas tanto pelo retores antigos quanto pelos tratadistas dos séculos XVI e XVII esperamos produzir uma aproximação ao poema menos inadequada do que aquela que seria possível com os instrumentos consignados pela crítica que se estabeleceu no século XIX a partir de categorias idealistas e românticas.