Resumo: O presente trabalho procura compreender o funcionamento do discurso da resistência ao regime militar instaurado no Brasil pelo golpe de 1964, através do exame da estrutura do condicional hipotético e de suas paráfrases. O corpus é constituído por textos escritos pinçados do arquivo do Projeto Brasil Nunca Mais da Arquidiocese de São Paulo e apreendidos por terem sido considerados subversivos pela polícia política do regime ditatorial. Inscrito no quadro teórico de uma Semântica do Acontecimento aliada a conceitos da Análise de Discurso e pela entrada lingüística do condicional hipotético, o trabalho vai dando visibilidade a um sujeito político que se constitui permanentemente na tensão da relação prótase-apódose da estrutura do condicional: um lugar discursivo onde estão, numa relação simulada de implicação lógica, um futuro utópico e as condições materiais para que esse futuro se realize. Esse sujeito político subversivo, constituído pelo desejo, muitas vezes inscreve-se, ao mesmo tempo, em posições-sujeito antagônicas, dando visibilidade a um discurso dividido, heterogêneo, contraditório. A tragicidade desse sujeito é um efeito da leitura de uma divisão que, deonticamente, insta o sujeito a agir mesmo na iminência da destruição de seu corpo físico.