Resumo: O tratado de Torquato Accetto, Della dissimulazione onesta, editado em 1640, foi redescoberto por Benedetto Croce, passando a atrair a atenção do público e da crítica especialmente a partir dos anos 80. Este interesse seguiu não só na esteira de um contexto amplo de retorno dos estudos sobre a prudência aristotélica, mas também por sua peculiar composição, calcada em uma prosa com períodos harmoniosos. Esta tese contrapõe-se à crítica baseada especialmente no contexto social e em projeções psicológicas sobre o autor; desenvolve-se antes um estudo que visa dar conta da construção do texto, sob o aspecto de sua inventio, dispositio e elocutio, em função ainda dos gêneros em que se insere, o tratado e o epidítico. Contemplam-se a estrutura e o estilo da composição accettiana, a partir das retóricas clássicas e dos tratados de agudezas. Circunscrevem-se os lugares comuns político-morais a partir de Aristóteles, Cícero, Sêneca e Agostinho, passando por Maquiavel até os teóricos da razão de Estado.