Resumo: Apresentamos a tradução comentada de La città felice, acompanhada de um estudo do pensamento utópico de seu autor, Francesco Patrizi da Cherso. Escrito em 1551 e publicado dois anos depois, em Veneza, este pequeno tratado político é um dos primeiros escritos utópicos que surgem na Itália do Cinquecento. Um tanto atípica, esta utopia aristocrática traz as marcas da recém concluída formação médica de Patrizi, assim como de suas primeiras leituras de Aristóteles e, via Ficino, Platão. A presença de Veneza e do mito que se forjara em torno da perfeição de sua constituição mista – que engloba as melhores formas de governo postuladas pelos filósofos gregos –, também faz-se perceber nas entrelinhas do projeto patriziano. Em nossa análise, procuramos evidenciar a inserção desta operetta, com todas as suas especificidades, no rol dos escritos políticos que, contemplando novas formas de organização social e apontando caminhos para a formação de um ideal de cidadão, tiveram grande fortuna na fase outonal do Renascimento.