Resumo: Nosso trabalho busca compreender o funcionamento da situação seqüestro como um acontecimento discursivo social, sob a perspectiva teórica da Análise de Discurso. A partir da análise de reportagens da imprensa, bilhetes e conversas telefônicas, empreendemos nosso gesto de leitura. No percurso da análise, foi fundamental compreender as especificidades dessa situação: o seqüestro irrompe no domínio da memória como um fato de 'emergência' em que a vida do sujeito seqüestrado está por um fio. O silêncio, o bilhete, a letra, a voz e a imprensa-televisão são os lugares materiais que o acontecimento engendra para se significar. Há um espaço enunciativo-intersubjetivo que instaura a economia da palavra: não falar, silenciar é um efeito da evidência. Porém, os sujeitos se mostram pela formulação, no corpo da palavra. O traço, a voz e o silêncio são signos de resistência materializados pelo simbólico. A análise do discurso do acontecimento seqüestro deu visibilidade ao embate subjetivo que irrompe na situação. Há a fragilização da identidade: não se pode deixar matar, os sujeitos estão presos a esse fio. A discursividade do seqüestro exerce nesse espaço os modos de filiação.