Resumo: O poeta Luiz Gama era negro, foi escravo, tornou-se herói abolicionista. A sua história foi registrada pela primeira vez em 1880 numa carta pessoal enviada a Lúcio de Mendonça. Nela, Gama parece narrar uma história que segue o modelo do herói tradicional, o homem que, após uma série de dificuldades e tragédias, consegue a superação. A história foi recontada por Mendonça e por escritores entusiasmados pelo caráter heróico que dela denota. Em vida o poeta publicou um único livro em duas edições: Primeiras Trovas Burlescas de Getulinho (em 1859 e em 1861). Grande parte da crítica expressou o desejo de desvendar a bibliografia pelo texto poético, conferindo a este uma importância secundária. Esta tese pretende salientar as estratégias ficcionais presentes nos textos que reelaboraram a história de vida de Luiz Gama, comprovar como o texto poético foi submetido às interpretações biográficas e mostrar como as narrativas sobre Gama, apesar de muito semelhantes, atenderam a apelos ideológicos diferenciados. Pretende também indicar o lirismo, e não só a sátira, como um componente de sua poética, frisar o cruzamento de referências clássicas e populares em seus versos e compreender como a sua percepção poética resolveu-se pelo acréscimo, e não pela exclusão.