Resumo: Este trabalho consiste numa investigação sobre um tipo de discurso que proponho chamar o discurso de si. Trata-se de um funcionamento que ocorre, empiricamente, em situações de conservação íntima, de caráter confidencial, em falas em situação terapêutica, em escritos íntimos, auto-reflexivos, como diários e em correspondências de caráter confidencial. No discurso de si o sujeito fala de si mesmo enquanto a instância estritamente subjetiva: tente representar, no corpo simbólico do discurso, estados psíquicos - pensamentos e sentimentos experimentados. Esse processo se manifesta tipicamente sob a configuração do que denominei a enunciação vacilante. Na enunciação vacilante, tão logo um segmento de valor representacional é enunciado, seu poder de nominação é suspenso pelo atravessamento de modalizações cujo efeito é fazer tombar os sentidos que o dizer inscreve na dimensão da provisoriedade, da imcompletude. Mas a constante busca do sentido próprio, a que o processo de modalização visa, faz cair o discurso na vacilação e acaba por refazer a referência, mostrando a emergência da não coincidência que afeta o dizer (Authier-Revuz, 1992). As diferentes modalizações encontradas no corpus são analisadas enquanto formas pelas quais a heterogeneidade do sujeito, do sentido e do dizer se manifesta.
Palavras-chave: Análise do discurso; Subjetividade; Teoria da enunciação; Semântica; Gêneros discursivos.