Resumo: Este trabalho apresenta um estudo sobre a linguagem de um sujeito afásico, numa perspectiva que, como afirma Coudry (2002), "se convencionou chamar de uma teoria de linguagem enunciativo-discursiva", enfocando aspectos fonológicos e morfológicos envolvidos nas produções orais de sujeitos afásicos que não são reconhecidos como palavras da língua pelos demais falantes. A partir dessa perspectiva, considerando as relações enunciativas e discursivas como constitutivas dos processos de significação, essas produções do sujeito afásico puderam ser entendidas enquanto funcionamento de linguagem. A própria caracterização do conjunto de sintomas pôde ser revista, em função da concepção de língua e de linguagem sobre o qual se baseia a semiologia das afasias. Através deste estudo de caso, apontam-se dificuldades para distinguir produções orais do sujeito afásico na tipologia que vem sendo adotada nos estudos da área. Desta maneira, levantam-se questões, não apenas sobre a tipologia em si e as conseqüências de sua adoção, mas também sobre os parâmetros e concepções de linguagem nos quais tal tipologia está assentada. A partir de uma analise lingüística, identificam-se aspectos fonológicos com base em modelos fonológicos não-lineares, buscando compreender os processos que guiam essas formações e dar visibilidade aos modos de arranjo dos fragmentos enunciativos-discursivos que constituem essas produções.