Resumo

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SURDO E A ESCRITA NA CLINICA FONAUDIOLOGICA: UM ESTUDO DE CA

MARIA CHRISTINA DE MELLO MIDENA

Orientador(a): Maria Fausta Cajahyba Pereira de Castro

Doutorado em Linguística - 2004

Nro. chamada: T/UNICAMP - M584s


Resumo:
O presente trabalho propõe-se a refletir sobre a aquisição da escrita por surdos congênitos, na clínica fonoaudiológica. Num primeiro momento, aponto que diferentes métodos empregados no trabalho educativo com surdos estão alicerçados no deslocamento de uma questão de ordem lingüística - a aquisição da escrita - para uma questão de ordem pedagógica, com seus processos de aprendizagem/ensino. Discuto que esse deslocamento se sustenta na noção de que a escrita é uma representação da oralidade e/ou da língua de sinais, assim como se vale de uma concepção de sujeito surdo como um indivíduo situado "fora" da linguagem e que sobre ela deve vir a exercer controle, como seu observador. A identificação dessas questões colocou a necessidade de uma reformulação das hipóteses concernindo surdez, aquisição de linguagem e a questão da língua materna. Para tanto, desenvolvo minha reflexão à luz das elaborações teóricas do interacionismo em Aquisição de Linguagem, perspectiva que me abriu um novo lugar de observação dos dados, distanciando-me das demandas pedagógicas em termos de ensino/aprendizagem. A partir de um registro longitudinal das produções escritas de uma surda que fala e escreve, assumi como questões centrais dessa tese as relações entre oralidade e escrita, o papel do texto no trabalho realizado na clínica e a especificidade do movimento de interpretação na aquisição da escrita por V. Inicialmente veio à cena um fato novo, e aparentemente paradoxal, nas relações entre oralidade e escrita em surdos congênitos: a leitura em voz alta, realizada pela própria surda, de seu próprio texto, promoveu efeitos de significação em uma escrita que, à primeira vista, barrava a interpretação. Esta, porém, ganhou visibilidade através do ato de leitura, em razão das segmentações, encadeamentos que chamei de coesão entonacional e produção de paratons narrativos em sua fala lida. Tal fato me permitiu reconhecer as mútuas relações constitutivas entre oralidade e escrita pela surda V. Na discussão sobre o papel dos textos literários selecionados para leitura, o papel daqueles que eu mesma escrevo com V. como participante de uma atividade conjunta e o papel dos rascunhos compartilhados, que sempre permeiam nossa atividade escrita na clínica, procurei destacar que sua incidência sobre os textos de V. é da ordem da interpretação, pois eles a colocam dentro da/na escrita, ou seja, seu papel é o de permitir outro texto, possibilitando a emergência de V. como sujeito nas brechas das cadeias significantes dos seus textos. Sendo assim, chamei atenção para as mudanças de V. nas relações com a escrita na atividade clínica, tomando-as como efeitos da linguagem sobre a própria linguagem. Com este trabalho, convido educadores surdos e ouvintes a refletir teoricamente sobre a hipótese da aquisição da escrita por surdos congênitos como um processo de subjetivação e não como resultado de práticas pedagógicas.

Palavras-chave: aquisição de linguagem - escrita; surdez; fonoaudiologia

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