Resumo: A presente tese objetiva as bases sobre as quais se apoia o conceito de "ciência" utilizado por Wolfram Wilss nos seus livros The science of translation (1977/1982), Kognition und Ubersetzen (1988) e Knowledge and Skills in Translator Behaviour (1996). O referido teórico é considerado um dos teóricos mais representativos da vertente cientificista da "ciência da tradução" alemã (Ubersetzungswissenschaft). Partindo da sua própria teorização, procuro mostrar que existe um descompasso entre alguns dos pressupostos implícitos no conceito de "ciência" (quando empregado conforme o paradigma "filosófico" cartesiano, como no caso de Wilss) e as características de qualquer tradução. Desenvolvo minha análise com base em dois conceitos relevantes para qualquer teorização sobre a tradução e que constituem um norte importante para este trabalho: o significado e o sujeito. A partir desse fio condutor, esta tese procura analisar se a relação que Wilss estabelece entre a sua proposta "científica" e o modelo epistemológico das ciências naturais - que, segundo o referido teórico, fundamentar-se-ia exclusivamente na filosofia cartesiana - seria realmente justificada. Argumento que usar o conceito de "ciência" seguindo as premissas do paradigma cartesiano mostra-se problemático, não apenas quando relacionado à prática tradutória, mas também em cotejo com o seu emprego por uma parte da comunidade científica e por teóricos da ciência contemporâneos, que têm problemas e as contradições inerentes à teorização de Wilss como, também, a visão de linguagem e sujeito adotada por uma parte dos cientistas naturais contemporâneos evidenciam a impossibilidade de se desenvolver uma "ciência da tradução" nos moldes propostos pelo referido teórico.