Resumo

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SIMULACROS DA CRIACAO

NILSON CANDIDO FERREIRA

Orientador(a): Sírio Possenti

Mestrado em Linguística - 2002

Nro. chamada: T/UNICAMP - F413s


Resumo:
Esta dissertação analisa a relação existente entre o discurso de divulgação científica evolucionista neodarwinista e o discurso criacionista conservador. O neodarwinismo, neste trabalho, representa o pensamento atual das diversas correntes da Biologia que seguem o modelo estruturado por Charles Darwin, a partir de sua obra A Origem das Espécies. O criacionismo conservador, também conhecido por fundamentalista, é a ala que interpreta o texto do Gênesis sobre a criação do mundo de forma literal. Esta formação discursiva contrapõe-se ao criacionismo "liberal", que é a ala criacionista que interpreta o Gênesis como literatura metafórica e/ou mitológica. Este trabalho, que analisa, principalmente, matérias da revista" Veja" que circularam no decorrer da última década, tem como discurso de referência o neodarwinismo e é fundamentado na teoria da Análise do Discurso francesa, especialmente nos conceitos de interdiscurso, semântica de base, interincompreensão, polêmica e simulacros discursivos propostos por Maingueneau. Verifica-se que a base semântica do discurso neodarwinista é fundamentada nas seguintes unidades lexicais: acaso, natureza, acidente (vi ver-por-viver), Homem-animal-comum/primata, evolução e milhões/bilhões-de-anos/eras. Atesta-se também, a partir do discurso de referência, que a semântica de base do criacionismo conservador é construída a partir das seguintes unidades lexicais: projeto, Criador/Deus, propósito, Adão (Homem-Ser-especial), criação e dias-da-criação. A análise do corpus aponta que o foco da guerra entre esses discursos está centralizado no item lexical "acaso" e seu oposto "projeto". Isso porque admitir que há "projeto" acarreta em admitir-se que há projetista e, se há projetista e projeto, há também propósito, pois uma coisa pressupõe a outra. Assim, ancorado no papel atribuído ao "acaso", o evolucionismo constrói o seu discurso e, simultaneamente, nega a legitimidade do discurso antagonista, que é retratado sempre através do simulacro discursivo construído pelo processo da interincompreensão. O discurso neodarwinista procura construir sobre si uma imagem de porta-voz da verdade e para isso rei vindica os sentidos construídos pelos semas: fato, realidade, prova, verdade, ciência de verdade, certeza, evidência, garantia, razão, racional. Os cientistas de sua formação discursiva são descritos como famosos, importantes, renomados, conceituados, sérios, sinceros, defensores da ciência e da verdade, etc. Em contrapartida, o discurso de referência constrói o simulacro discursivo do seu Outro através de semas como: mito, lenda, superstição, palpite, explicação sem sentido, histórias apócrifas, religião ruim. ciência ruim. Quanto aos que pertencem à formação discursiva antagônica, são: religiosos apaixonados, insinceros, supersticiosos, perseguidores da ciência, promotores de "guerras acirradas" em cujo meio encontram-se cientistas que na verdade são teístas inconfessos. Conclui-se que a relação de interincompreensão e polêmica entre os discursos protagonistas, relação fortemente marcada pela ideologia, faz com que cada um desses discursos veja o seu Outro somente através do simulacro que dele constrói. Outrossim. a análise dos processos ligados à construção dos sentidos materializados nesses discursos contribui para a formação de leitores mais críticos tanto com relação aos discursos analisados quanto com relação à linguagem em geral

Palavras-chave: Analise do discurso , Criacionismo , Biblia e evolução , Seleção natural

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