Resumo

Versão para impressão
MEMORIA DISCURSIVA: UM DESAFIO PARA A PRATICA DA PEDAGOGIA

ALESSANDRA SARTORI NOGUEIRA

Orientador(a): John Robert Schmitz

Mestrado em Linguística Aplicada - 2003

Nro. chamada: T/UNICAMP - N689m


Resumo:
Existem estudos (Vieira, mimeo; Moita Lopes, 1982; Busnardo e Braga, 1987; Vieira, 2001, Zachi, 2001) que relatam uma atitude altamente positiva, por parte de alunos e professores brasileiros de inglês como língua estrangeira, em relação à cultura dos EUA/Inglaterra e negativa em relação à sua própria. Tais estudos especulam que a ideologia dominante veiculada no material didático, na mídia, etc. estaria contribuindo para esse comportamento e sugerem uma prática pedagógica mais comprometida com questões sócio-histórico-ideológicas implicadas no ensino-aprendizado de inglês como língua internacional, que faça da sala de aula um lugar de luta social (prática esta comumente encontrada na literatura como Pedagogia Crítica). Argumentam contra a educação "bancária" (termo introduzido por Paulo Freire), que depositaria conhecimento numa cabeça supostamente vazia. Por intermédio de definições da escola francesa de Análise do Discurso (fundamentada, conforme veremos, em autores como Althusser, Foucault, Maingueneau, Pêcheux), argumentamos que o conteúdo que o aluno já traz consigo é a memória discursiva, entendida como algo que fala sempre, antes, em outro lugar e independentemente (cf. Pêcehux 1988:162); é o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito; é, enfim, o interdiscurso que interpela o sujeito (cf. Orlandi, 2000:31). Com o intuito de demonstrar o papel da memória discursiva no confronto entre culturas, aplicamos questionários a alunos de escolas de idiomas de Campinas, que demandavam comparações entre o Brasil e países de língua inglesa. Três perfis emergiram deste estudo, quais sejam: (1) aqueles que afirmam ser o Brasil pior que os países de língua inglesa, resultado que vai ao encontro de estudos previamente realizados; (2) aqueles que afirmam o contrário e (3) aqueles que reconhecem não haver melhor ou pior país, sendo qualquer categorização dependente de pontos de vista. Mesmo assim, foi possível detectar uma desvalorização do Brasil nos três perfis, ainda que essa não fosse a intenção. Isso sugere que a memória discursiva, no nível do inconsciente, contribui para que os sujeitos cometam uma "derrapagem verbal" (Possenti, 1999a), repetindo, sem se dar conta e sem intenção, o já-dito europeu sobre o Brasil, segundo o qual este país seria "inferior". Isso porque a memória discursiva do brasileiro se constitui pelos discursos colonialistas que colocam o Brasil como a cultura "primitiva" dependente do outro para progredir. Enfim, este estudo sugere que os autores comprometidos com a Pedagogia Crítica acabam por aludir a uma prática similar àquela da qual discordam: ao sugerirem que a sala de aula se transforme num lugar de luta social, esperam que os alunos absorvam, como tábula rasa, o conteúdo apresentado pelo professor, desconsiderando que a história sempre-já trazida pelo aluno, conforme especularemos, é um desafio a essa pedagogia.

. Rua Sérgio Buarque de Holanda, no 571
Campinas - SP - Brasil
CEP 13083-859

...

IEL - Based on Education theme - Drupal Theme
Original Design by WeebPal.