Resumo

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ENUNCIACAO DO TRANSBORDAMENTO DAS REGRAS...

CARMEN LUCIA HERNANDES AGUSTINI

Orientador(a): Eduardo Roberto Junqueira Guimarães

Doutorado em Linguística - 2003

Nro. chamada: T/UNICAMP - Ag97e


Resumo:
Não existe gramática desprovida de exemplos. Esses têm valor pedagógico, demonstrativo, ilustrativo e aplicativo de uma regra. Tradicionalmente, a gramática extrai exemplos da literatura, produzindo-lhe uma imagem de língua legítima e correta. No entanto, o gramático encontra na literatura contra-exemplos para as regras gramaticais que institui, mostrando aí uma contradição que ele "resolve" argumentando que se trata de uma "transgressão" realizada por razões estilísticas, por razão de uma intenção estética do escritor. A Estilística, em decorrência, comparece na gramática para legitimar as regras para as quais o gramático encontra contra-exemplos literários, o que estabelece uma relação de complementaridade entre Gramática e Estilística. A relevância social da literatura poderia levar à refutação dessas regras e ao descrédito do gramático responsável por elas, "obrigando-o" a enunciar o transbordamento da regra enquanto recurso estético-expressivo. Em nosso trabalho, abordarmos o estabelecimento da relação de complementaridade entre Gramática e Estilística. A partir da enunciação do transbordamento das regras enquanto parte da Estilística, realizamos uma análise de quatro textos gramaticais, a fim de compreender e explicitar o seu funcionamento discursivo. Esse transbordamento é um resíduo da instituição das regras que o gramático não pode ignorar, pois faz parte da prática linguageira da qual se vale para instituir/legitimar as regras gramaticais: a língua literária. Ignorá-las poderia comprometer a eficácia ideológica do discurso da gramática; havendo uma necessidade discursiva, referente à textualização política (Courtine, 1981) do discurso da gramática, de silenciar (Orlandi, 1995) os sentidos marginais que "reclamam" a divisão política da língua. Esse silenciamento é necessário ao discurso da gramática, visto que é imprescindível à gramática estabilizar sentidos que "apaguem" sua constituição política, para que se construa (e se mantenha) uma realidade lingüística para os falantes, produzindo uma unidade e uma homogeneidade (imaginária) pela língua. A enunciação do transbordamento da regra funciona como um mecanismo de controle-regulagem dos efeitos de sentido que atravessam o discurso da gramática e que sustentam a unidade e a homogeneidade (imaginária) da língua nacional e que poderiam promover contestações políticas sobre a instituição das regras. Um mecanismo de controle-estabilização de sentidos que estabelece uma tripartição para as possibilidades de dizer: gramaticais, erros, recursos estilísticos.

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