Resumo

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APROPRIACAO DE UM GENERO

MARCIA HELENA DE MELO

Orientador(a): Raquel Salek Fiad

Mestrado em Linguística Aplicada - 2000

Nro. chamada: T/UNICAMP - M491a


Resumo:
A reflexão aqui empreendida procura olhar para a produção escrita como resultado de um processo de construção, operado em uma dimensão que inclui esboços, plano da obra, elaboração, até chegar às correções finais. Acreditamos que uma das maneiras de que o lingüista pode dispor para entender o processo de escrita seja através de índices, pistas, deixados no texto, como os processos de apagamentos, substituições, acréscimos, novas ordenações, pausas etc. São pistas privilegiadas para a compreensão das hipóteses que o escrevente formula sobre o texto e da relação que mantém com ele e com o discurso que o envolve. Estas pistas de produção de escrita, portanto, podem nos ajudar a compreender melhor a relação entre o sujeito e a linguagem. Buscamos, na Critica Genética, os elementos que nos permitiram fazer algumas escolhas de natureza conceitual e metodológica. Com uma reconhecida experiência e tradição de tratamento dos manuscritos essencialmente literários, esta área do conhecimento é a que melhor conseguiu operacionalizar métodos de investigação de rascunhos e melhor compreender o estatuto das rasuras, no caso dos manuscritos de grandes escritores da literatura mundial. A noção de texto, a partir do aparecimento da Crítica Genética, sofre uma reviravolta. Sua realidade mais profunda não se encontra mais no produto (acabado, pronto, definido, separado do prototexto e do pós-texto, como pensava a teoria estruturalista); mas na sua produtividade, no "sem-fim de operações possíveis". No entanto, a maioria dos meios de que dispõe o geneticista para classificar os rascunhos ou para interpretar as microtransformações escriturais têm sido emprestados quase diretamente do arsenal conceptual da Lingüística. Evidentemente, quando os geneticistas se referem à busca de subsídios teórico-metodológicos na Lingüística, fazem questão de apontar a especificidade do tipo de modalidade de linguagem que está em jogo: a escrita, com todas as conseqüências da constituição de uma situação em que os elementos da enunciação não estão co-presentes no texto (Grésillon & Lebrave, 1982:134). Nosso interesse, não obstante, pauta-se sobre os processos de construção de textos produzidos em ambiente escolar. Duas adolescentes do Ensino Médio de uma escola comunitária-particular da cidade de Valinhos elaboram um texto, conjuntamente, a fim de que pudéssemos analisar como se deu a apropriação de um determinado gênero do discurso. Mais especificamente, pretendemos analisar de que forma as alunas em questão, sob determinadas condições de produção, mostraram ter se apropriado do gênero notícia. Buscamos, ainda, apreender o que esses sujeitos demonstraram conhecer sobre tal gênero e como a construção social desse gênero apareceu na escrita e fala deles. Também foi nosso objetivo apreender o que expressaram sobre a configuração textual do gênero e quais recursos lingüísticos utilizaram para realizarem o gênero. Para captarmos a linguagem em seu status nascendi, fizemos uso de um software francês chamado Genèse, desenvolvido pela Association Française pour Ia Lecture, em 1993, com objetivos pedagógicos. Com ele pudemos acompanhar todo o processo de produção desse texto. Suas idas e vindas, suas substituições, novas ordenações, pausas, acréscimos etc. puderam ser registrados em forma de relatórios impressos com a presença das modificações operadas no texto. Além do software Genèse, todo o momento de elaboração do texto foi filmado em fita de vídeo, com o objetivo de capturarmos o diálogo mantido entre os sujeitos a respeito do texto: suas reflexões, suas dúvidas etc. Seguiu-se, ainda, uma entrevista com as próprias alunas, desta vez gravada em fita de áudio, questionando os motivos que as levaram a apagar, substituir, adicionar, a trazer determinado elemento lingüístico etc. Tal trabalho requer uma linha teórica que responda à reflexão que se pretende empreender: a gênese de um texto escolar. No que se refere à concepção de linguagem, vemo- Ia como "trabalho/atividade constitutivo da subjetividade/alteridade e da própria linguagem, que pode ser tomada como um objeto sobre o qual se pode refletir e falar" (Franchi, 1992). Em relação à questão dos gêneros do discurso, usamos a abordagem sócio-interacionista de Bakhtin [1952-3] (1997)


Palavras-chave: Escrita , Lingua portuguesa - Genero , Linguistica aplicada , Criatividade na escrita , Aquisição de linguagem

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