Resumo: O quadro evolutivo de concepções e definições sobre a deficiência mental a coloca como déficit quanto ao desenvolvimento orgânico, intelectual, quanto às habilidades necessárias a um viver independente.Adotado como referência o quadro teórico da Análise do Discurso, representada fundamentalmente por Michel Pêcheux, na França, e por Eni Orlandi, no Brasil, promovemos um deslocamento que rompe com irredutibilidade do biológico e sustenta-se num gesto de interpretação que toma a deficiência mental como falta, mas numa nova ordem, como estruturante do simbólico.
Ao analisar o discurso sobre o sujeito com deficiência mental foi possível verificar que seus enunciados são pela sociedade interpretados como sem-sentido, porque aquele discurso funciona pelo viés da organização,enquanto a forma do deficiente mental significar se configura numa ordem simbólica diferente, pois a falta como constiutiva se materializa em sua fala através da indistinção de vozes, de rupturas, do embaralhamento do discurso do outro ao seu. A organização dos lugares de interpretação sobre o deficiente interdita a falta como espaço simbólico de subjetivação e, portanto, não permite que ele ocupe o lugar de sujeito de seus enunciados, ou seja, os sentidos que ele faz nessa falta não circulam socialmente.
O corpus analisado é constituído de um conjunto de textos sobre a educação para deficientes, abrangendo legislação, propaganda de campanhas e enunciados de slogans, cujos funcionamentos discursivos demonstram que, à revelia dos discursos vigentes sobre igualdade e inclusão do deficiente mental, ele continua sendo significado no patamar da exclusão. Teoricamente, mobilizamos as noções sobre o funcionamento do silêncio, indeterminação, elipse, oposição parafrástica, deslocamento, designação, definição, desorganização da fala e indistinção de vozes.
Ao produzir o deslocamento do foco de significação presente nos discursos sobre a deficiência mental pretendemos que a sociedade, fundamentalmente as instituições escolares, ao compreenderem a deficiência enquanto falta na ordem do simbólico, e como o deficiente ressignifica essa falta fazendo sentido, passe a reconhecer sua posição discursiva que o constitui sujeito capaz de uma prática social.