Resumo: O distanciamento entre as declarações de fide1idade dos tradutores e suas descrições das infidelidades inevitáveis ocasionadas pelo ato de traduzir constitui o tema desta dissertação. Ao comentarem ou justificarem seu trabalho em prefácios, introduções e notas de rodapé de edições bilingües, os tradutores revelam a tensão entre o desejo de fidelidade ao original e a impossibilidade de realizar esse desejo. As declarações dos tradutores denotam o anseio por um significado transcendental que sobreviva às transformações do ato tradutório; por outro lado, as descrições e outras declarações contraditórias restituem ao texto seu caráter contingente, de acontecimento localizado no tempo e no espaço. A situação paradoxal criada pelas contradições nos prefácios abala os conceitos tradicionais dos estudos de tradução e constituem um ponto de aporia por onde é possível problematizar a questão da fidelidade. Para as teorias tradicionais, baseadas na possibilidade e, conseqüentemente, no dever de fidelidade a uma mensagem presente no texto, as qualidades e a importância do original são tomadas aprioristicamente, o qlJe coloca a tradução numa posição secundária e servil, rebaixando os tradutores à condição de parasitas do autor. Dessa forma, a análise do que dizem os próprios tradutores sobre seu trabalho é particularmente significante, pois as contradições revelam que os tradutores, mesmo de forma velada, resistem às teorias tradutórias que simplificam a questão da fidelidade. O jogo duplo de fidelidade/infidelidade, que transparece nas declarações conflitantes dos tradutores, é constitutivo do processo tradutório, pois o texto traduzido relaciona-se intimamente com o original por modificá-lo.
Palavras-chave: Tradução e interpretação , Paradoxo