Resumo: O trabalha realiza uma revisão teórica de conceitos desenvolvidos pela Teoria da Enunciação e uma analise dos processos discursivos que caracterizam o discursa político dos chamados "governos de transição" na América-Latina dos anos ' 8O. O corpus consiste no conjunto de alocuções e declarações pronunciadas pelo presidente argentino Raul Alfonsin (1983-1989). A análise está centrada nos funcionamentos discursivos que desenvolvem as temáticas da democracia e da modernização. Observa-se a construção de uma representação discursiva do sujeito do discurso alfonsinista como porta-voz da cidadania, realizada a partir de processos discursivos de identificação, que instalam o sujeito da discursa dentro de um "nós argentinos" imaginariamente consensual. Porém, também se observam processos discursivos de diferenciação, que permitem ao sujeito do discurso destacar-se dos demais indivíduos que participam da referente discursivo designado pelo "nós" e representados como os enunciadores originários da palavra política. Denominamos este lugar de diferença "ilusão de exterioridade" e analisamos as diversas formas através das quais ele é produzido, A partir desta analise, fazemos um reflexo teórica sobre a relação estabelecida entre formas lingüísticas e processas discursivas e revisamos a conceito de "formas objetivas ou de distanciamento/apagamento do sujeito", propostas inicialmente pelas teorias da enunciação. Concluímos que a "ilusão de exterioridade" é um efeito-sujeito produzido a partir de uma determinada posição de sujeito, que funciona como lugar de inscrição/identificação ideológica do sujeito do discurso.

Palavras-chave: Análise do discurso; Semântica; Subjetividade; Argentina - Política e governo - 1983-1989