Resumo: A recente multiplicação dos enunciados acerca da corrupção no interior do aparelho estatal brasileiro constitui um fenômeno regularmente pontuado por um elenco de deslocamentos lexicológicos logicamente redutível à metáfora da doença. A medicina é certamente um conjunto de conhecimentos e procedimentos dotado de um vocabulário próprio; mas é também uma tecnologia de poder, conforme mostram sobejamente as genealogias foucauldianas. Segundo a nossa hipótese - linguisticamente fundada nas idéias de Lakoff e Johnson - a gigantesca cruzada contra a corrupção que se opera atualmente no Brasil, ao tomar seu objeto como se fosse doença, transporia toda essa tecnologia de poder em favor de uma estratégia surpreendente: é precisamente o Estado tido, em geral, como a instância central e exclusiva de poder - o alvo da minuciosa revista que rastreia os sintomas, persegue a etiologia e recomenda os tratamentos para o mal insidioso representado pela corrupção
Palavras-chave: Corrupção na politica - Brasil , Metafora , Analise do discurso