Resumo

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Registro de linguagem do programa Manos e Minas : analisando os recursos tópico discursivo e referenciação

Rafaela Defendi Mariano

Orientador(a): Anna Christina Bentes da Silva

Doutorado em Linguística - 2024

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M337r


Resumo:
Propusemos neste trabalho, na direção dos postulados de Agha (2007), a necessidade de ultrapassar a caracterização do registro de linguagem por meio da descrição do repertório ou da correlação entre um conjunto de repertório e os seus usos, já que, segundo o autor, o verdadeiro estudo dos registros requer atenção aos processos sociais reflexivos por meio dos quais os modelos de linguagem são formulados e disseminados na vida social e se tornam avaliáveis para uso pelos sujeitos na interação. Para isso, nosso objetivo geral foi caracterizar o registro de linguagem do programa Manos e Minas no nível textual-discursivo de modo a compreender o seu caráter reflexivo e a sua associação com as práticas sociais nas quais os sujeitos se engajam no programa. Escolhemos esse programa, já que ele representa um movimento midiático, ainda que não de forma sistemática ou generalizada, de inserção dos sujeitos da cultura urbana periférica na mídia a partir principalmente de 2008. Para compreender o processo sócio-histórico de formação do registro de modo mais amplo, fizemos inicialmente análises quantitativas dos projetos temáticos em uma seleção de 48 episódios do programa em seus diferentes períodos de exibição (2008 e 2009, 2013 e 2014, 2016). A partir dessas análises, pudemos constatar como a formação sócio-histórica do registro do Manos e Minas passa por processos de estabilização e mudanças. Assim, por um lado, observa-se, em todas as temporadas, a diferenciação discursiva que o programa procura estabelecer em relação à grande mídia ao tematizar, de forma recorrente, os objetos e as práticas ligadas ao hip-hop. Nas reportagens externas, por outro lado, foram observadas algumas mudanças na abordagem temática, como a extinção da participação dos trabalhadores periféricos abordando os problemas que vivenciam, a partir de 2013, e a participação de ativistas sociais tratando de suas trajetórias e práticas, além dos problemas sociais mais amplos e estruturais, principalmente a partir de 2016. Nesse sentido, observa-se o compromisso do programa tanto com um jornalismo cultural quanto com um jornalismo pautado pelas lutas sociais dos sujeitos periféricos nos diferentes momentos históricos. Em um segundo momento da investigação, tendo em vista que a reflexividade que caracteriza a elaboração dos registros opera, segundo Agha (2007), principalmente no nível textual, procuramos investigar o modo como é feita a gestão do tópico discursivo e construída a referenciação nas diferentes situações comunicativas. As análises apontaram, então, que os participantes, de modo geral, mobilizam modos de agir textual e discursivamente que revelam processos grupais de valorização de certas perspectivas sociais e de contra-valorização da perspectiva dominante na grande mídia sobre os sujeitos periféricos e as suas práticas. Isso fica evidente, primeiramente, pelo modo colaborativo com que a gestão do tópico discursivo é feita – os entrevistados mantêm em foco os objetos-de-discurso que, em geral, são apagados da grande mídia, tais como atores sociais e práticas ligadas ao ativismo e à cultura, além de trajetórias e objetos culturais ligados ao hip-hop. Além disso, mobilizam categorizações que evidenciam a legitimação desses objetos-de-discurso e o compartilhamento de perspectivas sociais sobre os referentes em foco – como a dos sujeitos periféricos como “guerreiros”. Sendo assim, nossas análises sustentam que esses modos de agir textual e discursivamente caracterizam o modelo de linguagem do programa e implicam um alto grau de reflexividade por parte dos participantes. Ainda sustentam como é possível investigar um registro de linguagem por meio da análise de aspectos textuais-discursivos que compõem o repertório desse registro ao longo de um tempo, o que comprova a tese de Agha (2007) sobre os registros como formações sócio-históricas.

Palavras-chave: Linguagem e línguas - Variação; Televisão - Programas; Hip-hop (Cultura popular); Tópico discursivo; Referenciação (Linguística)

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