Resumo: No Brasil, a partir da década de sessenta do século XIX, um negociante francês se consolidou em São Paulo para vender livros, ganhar o mercado de estudantes de Direito e o público em geral. Devido ao sucesso das estratégias comerciais da Casa Garraux e o entusiasmo de Anatole Louis Garraux, o espaço se constituiu como um empreendimento vantajoso, alcançando o oeste Europeu e o norte dos Estados Unidos. Perdurando por toda a segunda metade do século XIX, este empreendimento auxiliou a constituir um circuito literário, com forte conexão entre a França e o Brasil. Com o aporte da História Cultural, observamos como os materiais publicitários da loja promoveram a divulgação de um grande volume de romances estrangeiros e disseminação de livros brasileiros para várias partes do globo. Nesta tese, observamos duas estratégias publicitárias da Casa Garraux, a saber, a publicação de anúncios em jornais franceses e brasileiros e a publicação de catálogos. Com essas fontes, conseguimos observar sincronias de leituras nos ambientes onde esses materiais circularam. Para compreender a finalidade desses materiais publicitários, observamos o primeiro momento de atuação da Casa Garraux, explicando as ações realizadas para a disseminação dos romances. A partir de uma pesquisa bibliográfica exploratória e quantitativa, na Hemeroteca Digital Brasileira, acompanhamos a consolidação de um Gabinete de Leitura na cidade de São Paulo e suas relações com o espaço da loja, movimentando o ambiente literário na cidade. Identificamos as mudanças administrativas da loja desde o ano de sua fundação, em 1863, até o final do século. Observamos, neste período, as estratégias mobilizadas para difusão transatlântica de romances, a partir dos catálogos da Casa Garraux. Com essas informações, observamos como livreiros dos dois lados do oceano se conectaram e construíram uma rede de distribuição de informações e, ao lado disso, como os livreiros se adaptaram às novas tendências da prosa de ficção, disponibilizando para leitores desde romances do início do século até romances licenciosos proibidos em território francês, mas amplamente divulgados por meio dos catálogos em todas as partes alcançadas pela divulgação da Casa Garraux. Para criar essa conexão entre as lojas e os leitores, os livreiros estimularam encomendas oriundas das mais diversas partes do Brasil, Europa e Estados Unidos e constituíram um acervo variado de livros brasileiros e estrangeiros – franceses, na grande maioria. O mediador cultural (passeur culturel) Anatole Louis Garraux se destacou nas ações para a disseminação de livros brasileiros no estrangeiro. Ao retornar para o território francês, já aposentado, o negociante publicou uma Bibliographie Bresilienne, registrando livros brasileiros depositados em arquivos franceses no século XIX. Esse conjunto de textos (anúncios, catálogos e bibliografia) mostram a nós os ajustes de leitura entre ambientes distintos, revelando livros disponíveis naquele momento. Analisamos romances no material produzido pela Casa Garraux, observando a procedência dos romances, buscamos por traduções de livros brasileiros para o estrangeiro e vice-versa e comparamos a existência de romances franceses na seleção de livros estrangeiros. Identificamos, quando possível, se o catálogo estava atualizado com os livros vendidos em território francês, revelando do mundo da leitura, e não apenas a conexão administrativa das lojas. Desse modo, fornecemos indícios da internacionalização dos autores brasileiros mais e menos conhecidos pelo cânone literário.

Palavras-chave: Romances; Livros - Comércio; Livreiros e livrarias; Livros - História; Literatura brasileira