Resumo: O narrador kafkiano, por causa de sua postura criativamente interessada, mas moralmente indiferente em relação à matéria narrada, subordina o arranjo épico de obras como A Metamorfose, Pequena Fábula, Na Galeria, e O Silêncio das Sereias a estruturas fixas e funções exemplares; o resultado deste procedimento é que os efeitos de verossimilhança e ilusão antropomórfica (típicos das narrativas do século XIX) dão lugar ao estranhamento e a deslocamentos lógicos. Esta dissertação, tendo como ponto de partida uma discussão teórica sobre o narrador, deriva da matéria verbal da obra de Kafka uma imagem das formas sociais por ela representadas: a burguesia, a história, as perspectivas de superação do capitalismo. A metodologia em jogo (leitura cerrada, comparativismo, dialética entre o detalhe e o todo) contém implicitamente, e por vezes ele será explicitado, um comentário sobre a especificidade da prática crítica quando seu objeto é um autor consensualmente hermético e, ao mesmo tempo, sobre o qual muito se escreve.
Palavras-chave: Kafka, Franz, 1883-1924 - Crítica e interpretação; Ficção; Burguesia; Literatura e história