Resumo: Esta pesquisa se organiza em torno da análise da metanarrativa no romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, com a qual defende a hipótese de que o autor expõe por dentro do romance a sua própria filosofia da composição – seu pensamento sobre a escrita ficcional, da sua estrutura à sua função. Essa exposição é simultaneamente defesa e exemplo da literatura que ele considerava em construção naquele período, após a ‘destruição’ do passadismo realizada pelo movimento modernista. A figura metafórica dos andaimes da construção se presta a sustentar essa imagem de uma literatura brasileira não concluída, mas sendo ainda pensada naquela década de 1930. O jogo metanarrativo iniciado desde a primeira linha do romance provoca o debate, baseado nas teorias de Bakhtin (2011), de Barthes (1989) e do próprio Graciliano, acerca da noção de autor e de sua função. Como “observador da realidade”, o autor, segundo o romancista, deve atentar-se para as personagens da vida cotidiana, procurando compreender seu mundo, a partir da cultura, da lógica de pensamento e da linguagem delas mesmas, num radical exercício de alteridade. A pesquisa segue esse percurso argumentativo, procurando mostrar o funcionamento do texto enquanto discurso de Graciliano Ramos (autor-criador) e de Paulo Honório (personagem-autor), tendo por base a teoria do dialogismo de Bakhtin. Para tanto, busca compreender como Graciliano constrói a narrativa a partir da observação do mundo da personagem e da visão dela/personagem a respeito de seu próprio mundo. A filosofia da composição de Graciliano consiste, assim, num exercício radical de alteridade – de conhecimento do outro não como objeto, mas como outro de si mesmo. Só assim, para ele, seria possível construir uma imagem realista da cultura brasileira.

Palavras-chave: Metanarrativa; Alteridade; Realismo; Ramos, Graciliano, 1892-1953. São Bernardo - Crítica e interpretação