Resumo

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Modelamento sociocognitivo e discursivo da pandemia de covid-19 nas lives de quinta-feira do ex-presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro

Marcela Costa de Souza

Orientador(a): Edwiges Maria Morato

Mestrado em Linguística - 2023

Nro. chamada: DISSERTAÇÃO - S89m


Resumo:
No Brasil, conduzida pelo governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, a pandemia de Covid-19 ficou marcada pela postura negacionista adotada, colocando em xeque as medidas sanitárias propostas no país e no mundo para conter a disseminação do coronavírus e evitar mortes. Considerando que as categorias da nossa experiência não são fixas, mas provisórias, tendo a instabilidade como constitutiva e que, por isso, tornam-se alvo de disputas entre grupos sociais pela fixação normativa e histórica de um modelo sobre o mundo (Mondada; Dubois, 2003), durante a pandemia, as disputas por sentidos entre o campo científico e o bolsonarista – que adotou o negacionismo como estratégia de ação (Cavalcante, 2021) – ocorreram no exercício de suas práticas sociais. No caso do ex-presidente, essa disputa foi performada em suas falas públicas, como as ocorridas nas lives de quinta-feira, ferramenta político-institucional de comunicação do governo e objeto de estudo desta dissertação. A partir da Linguística Textual, adotamos a abordagem sociocognitiva do texto (Koch, 2002; Marcuschi, 2001a; Morato, 2017), por entender os textos como formas de cognição social que permitem ao homem “organizar cognitivamente o mundo” (Koch, 2002, p. 157). Como formas de cognição, os textos ancoram-se em frames, isto é, blocos de conhecimentos inter-relacionáveis que, incorporados por meio de práticas sociais, emergem na organização de nossas experiências sociais cotidianas e são reciprocamente por elas organizados (Morato, 2010). Considerando a hipótese de Bentes e Morato (2021) de que o modelamento sociocognitivo e discursivo da pandemia observado nas falas públicas de Jair Bolsonaro teria contribuído para legitimar suas ações na condução político-institucional da pandemia, o objetivo desta pesquisa é investigar as pistas textuais que organizam a conceptualização da pandemia de Covid-19 nas lives de quinta-feira, a partir de frames semântico-interativos, a fim de estabelecer um possível quadro relacional entre a forma de Jair Bolsonaro conceber a pandemia e a forma de agir diante dela, em termos de políticas públicas. Para isso, após eleger um corpus de 10 lives entre os anos de 2020 e 2021, transcrevemos os trechos das cenas referenciais (Tomasello, 1999) em que a pandemia era alvo do processo de referenciação (Mondada; Dubois, 2003). Feito isso, investigamos as bases sociocognitivas (ideológicas, cognitivas, interativas) e textuais-discursivas que fundamentam o bolsonarismo, a partir de estudos socioantropológicos e políticos, como os de Almeida (2019), Boito Junior (2019) e Feltran (2020), a fim de identificar os frames em que sua retórica está ancorada. Encontrando o neoliberalismo e o neoconservadorismo como racionalidades basilares do discurso bolsonarista (Solano, 2018; Cesarino, 2019; Lacerda, 2019), dedicamo-nos à análise linguística das “lives de quinta” a partir das estratégias de referenciação e textual-discursivas de construção do sentido (Koch, 2018). Como resultado, identificamos que a associação entre o modelamento discursivo e os frames neoliberais e neoconservadores é feita através de elementos conceptuais como valores cristãos e família tradicional, liberdade, autossuficiência, sucesso e anticomunismo. Concluímos que essas associações agem promovendo uma percepção sobre o mundo que justifica moralmente (Tomasello, 2019) as ações neoliberais radicais postas em prática durante a pandemia em um verdadeiro exercício de necropolítica (Mbembe, 2016).

Palavras-chave: Sociocognitivismo; Frames (Linguística); Governo Bolsonaro; Pandemia; Linguística textual

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