Resumo: Esta dissertação tem como objeto o poema épico Paradise Lost (1667) – Paraíso Perdido –, do autor inglês John Milton (1608-1674). Em um período em que as discussões teológicas fervilhavam na Europa, Milton reinterpreta a história do Éden de Gênesis na forma de um poema épico, repleto de questões procedentes da teologia cristã, as quais indicam um plano hipoteticamente ortodoxo do autor. Todavia, o poema demonstra, ao mesmo tempo, um desvio da ortodoxia, por meio sobretudo da imaginação poética decorrente do desdobramento narrativo de Milton. Esses desvios são hipóteses que serão verificadas neste trabalho como sendo desvios vinculados à questão da representação do mal. No poema, o conflito entre a ortodoxia cristã e os descaminhos desse cristianismo dogmático produzem uma representação do mal que é múltipla, ao passo que o autor imagina poeticamente o mal de uma narrativa mítica, que esteve por dezenas de séculos sujeita a leituras simbólicas e religiosas. A fim de demonstrar a complexidade e o excesso da representação do mal em Paraíso Perdido, a primeira parte desta dissertação analisa a questão do mal a partir da suposta ortodoxia cristã do autor e seus desvios poético-imaginativos, pelo tema da transgressão, da imaginação poética e da historicidade do poema. A segunda parte deste trabalho busca explorar o caminho simbólico da representação do mal em Paraíso Perdido, como uma alternativa não racionalizante da questão do mal. Esses símbolos não são frutos da criação poética individual do autor e tampouco são uma opção religiosa, mas sim uma construção coletiva-social que se manifesta em mitos e em narrativas. Nesta análise da construção simbólica do mal em Paraíso Perdido, buscaremos verificar, à luz da teoria de Paul Ricœur, em A Simbólica do Mal, momentos da consciência da mancha, do pecado e da culpabilidade presentes na obra-prima de John Milton.

Palavras-chave: Milton, John, 1608-1674, Paraíso perdido; Ricoeur, Paul, 1913-2005; Mal na literatura; Imaginação