Resumo: Nesta tese, busca-se investigar o laço entre o discurso humorístico e os processos de identificação e subjetivação dos homens à dominação masculina. Em outras palavras, explorar como o discurso humorístico se entretece com as normas, os mitos e os estereótipos desta posição dominante no sistema sexo/gênero e quais seus possíveis efeitos práticos nos processos de identificação destes homens com os ditames da virilidade idealizada. É nesse sentido que se pode entender o que se chama aqui de riso do varão: ele expressa o papel ambivalente que o riso ocupa na construção e manutenção da identidade de gênero masculina, dividida entre o riso que os homens manifestam e o riso que os homens provocam; em toda ambiguidade do trocadilho, com o riso do varão se pretende referir tanto ao riso expresso ou suscitado pelo homem quanto às suas transformações metafóricas. O primeiro objetivo desta tese, portanto, é o de investigar como os homens se fazem homens através do humor — notadamente, através das piadas (particularmente anedotas e memes). Paralelamente, o segundo objetivo desta tese é realçar e reafirmar o caráter intrinsecamente prático da linguagem e do discurso, assim também avançando a compreensão do aspecto inventivo do discurso humorístico. Em outras palavras, pretende-se investigar, através das piadas e dos memes, quais efeitos de sentido sobre os homens que a enunciação humorística fabrica a partir dos signos que lhe oferecem os sistemas e dispositivos que constroem nossas sociedades; as maneiras pelas quais estes sistemas definem os homens e o discurso humorístico, mas também como os homens os assimilam através deste registro discursivo. O texto que segue se divide da seguinte maneira: o primeiro capítulo é dedicado a explicitar o ferramental teórico da Análise do Discurso bem os elementos que delineiam as características do arquivo da pesquisa, a saber, as tecnologias do dispositivo de gênero, as injunções da virilidade idealizada e as particularidade do registro humorístico. No segundo capítulo, busca-se avançar a hipótese de que as práticas e o discurso humorístico cumprem um papel particular na socialização masculina; através de uma revisão da literatura sobre as masculinidades, com especial atenção a análises do papel do humor nas interações masculinas, propõe-se a existências de “tecnologias humorísticas da virilidade”. O terceiro capítulo, voltado à teoria do discurso, é dedicado a acertar problemas conceituais que o encontro entre as representações humorísticas dos homens, a virilidade idealizada e a performatividade da norma acarretam para as análises discursivas; busca-se, através de um diálogo com Ludwig Wittgenstein, Michel de Certeau e Judith Butler, apontar caminhos para uma análise discursiva que leve em conta a materialidade prática do sentido nos processos de subjetivação. O quarto e último capítulo é dedicado à cartografia do riso do varão, destacando o jogo com a latência de sentido implicada pelas normas da virilidade e o trabalho humorístico com estas normas, dividido entre a transgressão e o limite.

Palavras-chave: Discurso; Gênero; Humor; Masculinidade