Resumo: O objetivo desta tese é analisar a constituição de um sujeito ciborgue a partir da observação de grupos de biohackers, procurando, a partir do conceito de sujeito pós-humano, compreender quais são as negociações feitas entre humanos e não-humanos na formação da subjetividade pós-humana. O estudo parte da questão de que os biohackers, devido à natureza de seus experimentos envolvendo, sempre em certa medida, a aproximação do biológico com o tecnológico, são sujeitos ciborgues. Foi construído, para a pesquisa, um aparato teórico-metodológico híbrido, a partir do diálogo entre o conceito de dispositivo nas teorias de Michel Foucault e o conceito de ator-rede no trabalho de Bruno Latour, além das teorias sobre o Pós-humanismo e o pós-humano. Por meio do corpus produzido da observação de um grupo de biohackers, em suas atividades tanto on-line quanto off-line, foram selecionados três atores focais associados na produção das subjetividades ciborgues tal como entendidas pelos biohackers participantes: o biochip que alguns biohackers inserem sob a pele das mãos, um dos biohackers, por meio de suas narrativas sobre si; e, por último, a psilocibina, uma substância química com a qual os biohackers se associam de forma a transformar a si mesmos. Analisadas sob a dupla ótica do dispositivo e do ator-rede, as trajetórias desses atores focais apontam para não apenas para a condição dos biohackers como ciborgues, mas também como produtores de um conceito de pós-humano pautado em uma visão fundamentada no apagamento dos traços humanos. Ao mesmo tempo, os dados também evidenciaram que as narrativas sobre quem é e o que faz o sujeito ciborgue são disputadas por grupos de biohackers a partir da interação entre diferentes atores no ator-rede. Foi possível observar que esse atrito ocorre por um desejo de determinar a posição visão que regerá a constituição do futuro do humano: o mercado ou a ciência.

Palavras-chave: Subjetividade; Ciborgues; Pós-Humanismo