Resumo

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'Não há nada entre nós' : uma (im)possível tradição poética de mulheres no imaginário de Ana Cristina Cesar, Adília Lopes e Patti Smith

Erica Martinelli Munhoz

Orientador(a): Cristina Henrique da Costa

Doutorado em Teoria e História Literária - 2023

Nro. chamada: TESE DIGITAL - M925n


Resumo:
A ideia de tradição poética de mulheres representa hoje, no âmbito da crítica literária feminista, um tema problemático e não totalmente resolvido. A poesia escrita por autoras da segunda metade do século vinte, como Adília Lopes, Ana Cristina Cesar e Patti Smith, pode operar reconfigurações críticas e criativas do conceito. Nos anos 60, a primeira geração da crítica literária feminista encarava a tradição como uma força opressiva a ser combatida, mas a geração seguinte a recupera por meio do conceito de “female tradition” (Moers e Showalter). Tal proposta é, entretanto, problematizada pelos seus aspectos excludentes. No âmbito dos estudos literários, a indistinção entre tradição e cânone gera tensões e evidencia a instabilidade do conceito de tradição. Provenientes de contextos culturais distintos, as três poetas aqui estudadas compartilham, no entanto, importante relação com a contracultura e certa ambivalência entre pertencimento e marginalidade, o que confere à sua poesia um ponto de vista privilegiado para reflexões problematizantes a respeito da tradição. Ao investigar símbolos, metáforas e “imagens poéticas” (BACHELARD, 2016) na sua poesia, este trabalho espera lançar luz sobre o paradoxo em torno da “tradição de mulheres”. Tal reflexão é guiada pela releitura crítica de dois conceitos fundamentais da ginocrítica: a “angústia de autoria” e a “matrilinhagem” (GILBERT e GUBAR, 1979). A investigação do símbolo do cisne enquanto figura da tradição poética dominante permitiu explorar relações ainda conflituosas com nomes da tradição, reconfigurando o conceito de “angústia de autoria”. A identificação da imagem da “mãe literária” em tais relações não impediu, porém, a leitura crítica da noção idealizada de “matrilinhagem”, cujos desdobramentos se desenvolveram a partir da dupla figura da bruxa. Lida, de um lado, como personagem histórica da opressão de gênero (a caça às bruxas representa um marco histórico de consequências simbólicas duradouras, recuperado pelo feminismo recente), e de outro como personagem mítica maléfica, a bruxa reúne uma das principais dicotomias da figura feminina: representada ambos como vilã e como vítima. Os diálogos entre a “imaginação material” (Bachelard) e o imaginário social historicamente estabelecido em torno da mulher criam ferramentas para uma leitura feminista das imagens do voo e velocidade em Ana Cristina Cesar, e dos desdobramentos do símbolo do fogo na poesia das três poetas em questão. As “águas compostas” de Bachelard, em diálogo com a imagem filosófica do phármakon, permitem ler em Adília Lopes a ambivalência das relações femininas, aprofundada nos três capítulos que exploram a intertextualidade entre as poetas e algumas de suas “predecessoras” (Bishop, Sexton e Plath). Tais relações sugerem uma interpretação problematizante da relação com as ditas “mães literárias”. Por fim, três figuras femininas do mal (a femme fatale, Eva e a “musa cruel”) identificadas na poesia de Cesar, Smith e Lopes, colocam em questão as máscaras identitárias femininas, a problemática da agência e da submissão, e mostram que, na sua poesia, as relações de poder que determinam a tradição são reconfiguradas de formas provocativas.

Palavras-chave: Poesia; Tradição; Crítica literária feminista; César, Ana Cristina, 1952-1983; Lopes, Adilia, 1960-

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