Resumo: A presente tese investiga as noções de ética que se podem apreender a partir das representações do-no ensino de língua portuguesa no contexto do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Nela, partimos do pressuposto de que a noção de ética pertence à esfera do agir de cada sujeito, envolvendo a relação com o outro, e nos direcionamos pela hipótese de que as representações de ensino-aprendizagem de língua portuguesa apontam para diferentes concepções de ética. Como objetivo geral, visamos suscitar a discussão sobre ensino de língua portuguesa a partir da compreensão de ética como resposta das professoras às representações que emergem no contexto de um curso de formação continuada. Especificamente, buscamos i) discriminar os fios dos dizeres que constituem o corpus visando a: i) apreender a(s) noção(ções) de ética que emerge(m) do-no jogo discursivo; e ii) apreender as relações que se podem estabelecer entre os dizeres das participantes sobre as ações que realizam visando a alfabetização dos alunos e as representações de ensino que emergem do curso de formação continuada do PNAIC. Para tanto, foram analisados os dizeres de vinte e três professoras envolvidas (cursistas e formadoras) com o curso de formação continuada do PNAIC, que foram examinados tendo-se em vista as contribuições de Foucault ([1975-76] 2005), Derrida ([1964] 2011) e de Lacan ([1959-1960] 2008). Metodologicamente, foram empreendidos gestos de análise inspirados na perspectiva discursivo-desconstrutiva, que visaram à discriminação dos fios dos dizeres imbricados na materialidade linguística, por meio dos quais foram selecionados recortes e sequenciamento de trechos concernentes às representações analisadas. O exame das representações de si e do(s) outro(s) emersas dos Cadernos de Formação (material escrito produzido em função do curso de formação continuada oferecido pelo PNAIC) e dos dizeres das participantes da pesquisa permitiram a identificação: a) quanto aos primeiros, da emersão de representações de ensino-aprendizagem de língua portuguesa das quais se pode depreender a proposição de modos de compreensão assim como práticas relativas à alfabetização repercutindo no que chamamos de ética institucional; e b) quanto aos segundos, face à ética institucional, a emersão de representações a respeito de si, dos alunos e do ensino de língua portuguesa caracterizadas por práticas a partir das quais as professoras se colocavam como respondentes: i) às proposições do PNAIC para alfabetização; ii) aos alunos e(m) suas necessidades e iii) aos elementos advindos de suas representações sobre ensino-aprendizagem bem como memória individual, repercutindo no que compreendemos serem diferentes respostas-éticas na-da alfabetização. Atravessadas por diferentes posicionamentos, tais respostas foram caracterizadas por ações tais como as de recusa, de adesão ou de assunção de um compromisso de re-criação dos modos de promover a aprendizagem dos alunos.

Palavras-chave: Ética; Representação (filosofia); Letramento; Formação de professores