Resumo: O principal objetivo deste trabalho é explorar a noção central de desejo em Lacan pelo viés das operações da metáfora e da metonímia, escritas dos dois modos de articulação entre significantes e seus efeitos de significação. Esses dois modos de arranjo dos elementos significantes em cadeia abrem caminho para uma reflexão sobre o desejo em suas relações com a linguagem, tema que já se encontra presente sob outros termos no livro inaugural de A interpretação dos sonhos (Freud, [1900] 2001) com os mecanismos do trabalho do sonho. Em nosso percurso, valemo-nos predominantemente de alguns textos do período da década de 1950 presentes na coletânea Escritos (Lacan, [1966] 1998) e suas adjacências, focando precisamente nas especificidades da leitura que Lacan realiza da linguística estrutural de base saussuriana. Atravessam essa pesquisa, de ponta a ponta, três impasses fundamentais: 1) há uma relação não harmônica entre linguística e psicanálise baseada num “contato constante” (Milner, 2010) entre ambas e numa irredutibilidade de interesses teóricos sobre o que se manifesta na fala; 2) a coletânea Escritos e, em geral, a teorização em psicanálise, preserva um movimento constante de reformulação baseado na impossibilidade de dizer tudo sobre a verdade inconsciente; 3) o desejo é articulado, porém não articulável (Lacan, [1961-1962]). Por outro lado, uma reflexão sobre desejo, metáfora e metonímia também nos abre caminho para pensar diferentemente o papel dos mecanismos próprios da língua em psicanálise, na maneira como eles necessariamente erram a verdade inconsciente e nos efeitos que possam daí derivar.

Palavras-chave: Lacan, Jacques, 1901-1981; Psicanálise e linguística; Linguística; Desejo; Significação (Psicologia)