Resumo: Que efeitos de sentido são produzidos quando se vai às ruas como palhaço em protesto? Nesta tese, você me acompanhará por um percurso de compreensão do processo discursivo no qual sujeitos formulam seus corpos e/ou suas palavras com o significante palhaço, produzindo, assim, efeitos de protesto, crítica, denúncia, insubmissão etc. A fim de responder à questão anterior, ancorado nos princípios e procedimentos da Análise de Discurso materialista, meu objetivo foi o de descrever-interpretar fotografias cujas formulações visuais estão estruturadas por corpos-palhaço ou pela palavraria-palhaço – em certos casos, por composições-palhaço. Tais fotografias integram um arquivo que foi sendo constituído na vasculha, em blogs e portais de notícias online, por materiais visuais que textualizassem cenas de manifestações de rua brasileiras, ocorridas dos anos 2000 em diante, das quais os sujeitos participassem portando a máscara palhacesca. Em alguns casos, mesmo com o nariz vermelho fisicamente ausente na fotografia, o significante palhaço compareceu de outras maneiras na formulação visual: seja por meio da materialidade verbal compondo enunciados inscritos em cartazes, seja pelos trejeitos, apetrechos e posturas do corpo de dado sujeito. A partir das fotografias que integram o corpus de análise, dadas as variadas condições de produção nas quais foram elaboradas, chegamos a um processo discursivo cuja operação se dá por um jogo entre “ser e/ou não ser palhaço”, em que esse significante tanto pode referir aquele que seria o objeto e/ou o agente de uma palhaçada. Conforme as formulações de determinadas fotografias, você verá que, ao portarem o nariz vermelho, os sujeitos refutam o gesto de um outro sujeito (seu alvo de crítica) que o fez se sentir como um palhaço, negando essa alcunha. Em outras, haverá sujeitos com a pequena máscara na face cujos efeitos de sentido de palhaço são referentes a alguém que age de jeito debochado, parodiador e provocativo, promovendo a ridicularização de seu alvo de crítica. Além disso, há sujeitos cujos corpos se formulam palhaços nas manifestações de rua contestando esses usos que mencionei anteriormente. Sim, o que você verá aqui é um abrangente inventário de disputas: não apenas pelas reivindicações, causas e queixas colocadas em pauta pelos sujeitos em protesto, mas também pelos sentidos de palhaço – dentro e fora do campo artístico. Você verá a pujante equivocidade de palhaço em funcionamento, metaforizando-se diversamente entre distintas demandas dos sujeitos no social, esse campo dissimétrico, conflituoso e dividido, que é fundado na contradição.

Palavras-chave: Análise do Discurso; Fotografias; Manifestações públicas; Palhaços; Brasil