Resumo: Neste trabalho, analisamos a constituição de uma memória acerca do estudioso da linguagem Joaquim Mattoso Câmara Júnior, a partir da compreensão do funcionamento da instituição que mantém seu acervo pessoal, o Centro de Estudos Linguísticos Mattoso Câmara (CELMAC), localizado na Universidade Católica de Petrópolis (UCP-RJ). Para tanto, mobilizamos conceitos do dispositivo teórico-analítico da Semântica do Acontecimento em articulação com o campo da História das Ideias Linguísticas, buscando construir conhecimento a partir da relação de constituição mútua entre língua e história. Assim, observamos a instauração do CELMAC enquanto acontecimento enunciativo: “algo é acontecimento enquanto diferença na sua própria ordem” (GUIMARÃES, 2005b [2002], p. 11). Ao instaurar essa diferença, o acontecimento do dizer produz uma temporalidade própria: enquanto presente, estabelece um passado de determinadas enunciações, projeta uma futuridade de outras enunciações e produz significação. O presente da enunciação recorta um memorável, que faz esse presente significar, e projeta enunciações futuras. Nas palavras de Guimarães (2005b [2002], p. 12), “a temporalidade do acontecimento constitui seu presente e um depois que abre o lugar dos sentidos, e um passado [...] que é rememoração de enunciações [...]”. A partir da análise enunciativa do corpus organizado com diferentes textos relacionados ao CELMAC – indexação, apresentação e inventário do acervo, correspondências e um trabalho sobre a obra de Mattoso Câmara inserido como gesto da instituição –, descrevemos uma compreensão sobre processos de significação dessa instituição que podem nos dizer da constituição de uma memória sobre Mattoso Câmara. Dessa maneira, este trabalho nos leva a pensar a história da ciência linguística brasileira estabelecendo uma relação com uma política de memória científica brasileira. Dito de outro modo, leva-nos a colocar em questão a capacidade de as instituições brasileiras (não) construírem uma memória sobre o conhecimento científico que produzem. Sendo assim, aqui se busca analisar, de forma específica, o que o CELMAC significa sobre a política de construção da história da ciência (linguística), promovendo, ainda, reflexões para uma política de memória da ciência brasileira

Palavras-chave: Câmara Junior, J. Mattoso (Joaquim Mattoso), 1904-1970; História das Ideias Linguísticas; Semântica do Acontecimento; Arquivos; Memória - Aspectos políticos