Resumo: Os verbos denominados como psicológicos são descritos na literatura como “problemáticos”, pois apresentam algumas peculiaridades, dentre as quais a possibilidade de mapear o papel temático experienciador em posições sintáticas distintas: A Maria teme o João/ O João assusta a Maria. Belletti e Rizzi (1988) defendem que os verbos que mapeiam o experienciador em posição de sujeito e os que mapeiam em posição de objeto não são drasticamente diferentes, no entanto, estudos mais recentes com crianças com desenvolvimento típico da linguagem defendem que há motivos para acreditar que existe diferença de complexidade dependendo da posição sintático em que o experienciador estiver (CARNEIRO, 2011; ALVES, 2018). Deste modo, sabendo que determinadas deficiências podem acentuar dificuldades percebidas em crianças com desenvolvimento típico, pautados nos pressupostos gerativistas acerca da aquisição da linguagem, neste trabalho buscamos saber se esses verbos representam alguma dificuldade especial para pessoas com Síndrome de Down (SD), tendo em vista que essa Síndrome acarreta uma série de dificuldades relacionadas à linguagem (CHAPMAN, 1998; SCHARTZMAN, 2007; MARTINHO, 2011). De modo mais específico, temos como objetivo analisar a compreensão do papel temático experienciador de verbos psicológicos por jovens com Síndrome de Down com idade entre 10 e 20 anos. Para compor nosso grupo controle, recrutamos 20 participantes adultos com idade entre 18 e 40 anos e 20 crianças com idade entre 4 e 5 anos, ambos com desenvolvimento típico e sem nenhum diagnóstico de deficiência ou déficit relacionado à linguagem. Por meio da técnica de seleção de imagens, todos os participantes do grupo controle, assim como do grupo alvo, formado por 20 jovens com SD com idade entre 10 e 18 anos, foram convidados a participarem de duas tarefas experimentais. Na primeira, o participante era incentivado a selecionar, dentre duas animações, aquela que representava ou mais se assemelhava com um estímulo auditivo. Na segunda tarefa, o participante ouvia o estímulo auditivo ao mesmo tempo em que via a animação correspondente, logo em seguida deveria indicar qual o personagem da animação/sentença que acabara de ver/ouvir que apresentava o estado emocional (experienciador) ou que praticava a ação (agente) descrita pelo verbo dessa sentença. Em ambas as tarefas, foram utilizados verbos psicológicos com sujeito experienciador (verbos do tipo Temer), verbos psicológicos com objeto experienciador (verbos do tipo Preocupar) e verbos de ação, os quais foram tomados como controle. Hipotetizamos que haveria diferença entre Temer e preocupar, sendo que o primeiro teria índices de acertos mais baixos do que o segundo; hipotetizamos, ainda, que os índices de acertos nos verbos psicológicos seriam inferiores em relação aos verbos de ação, nas duas tarefas experimentais; em relação aos nossos grupos de participantes, hipotetizamos que aqueles com SD teriam resultados diferentes dos demais (adultos e crianças), indicando possíveis interferências da SD na compreensão de verbos psicológicos e do experienciador. Os resultados indicaram que, para nossos participantes com SD, os verbos pertencentes à classe Temer e à classe Preocupar não representam complexidades distintas para serem compreendidos (X2 = 3,13(1), p = 0,07), assim como não há diferenças se o experienciador está na posição de sujeito ou de objeto (X2 = 0,51(1), p = 0,47), refutando uma de nossas hipóteses iniciais, mas em relação à compreensão do papel temático, os dados confirmaram nossa hipótese de que o agente é mais acessível para ser compreendido em relação ao experienciador (X2 = 17,15(1), p< 0,001).

Palavras-chave: Aquisição da linguagem; Língua Portuguesa - Verbos; Língua Portuguesa - Sintaxe