Resumo

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O lá que resiste aqui : sentidos de e sobre refugiados

Sabrina SantAnna Rizental

Orientador(a): Claudia Regina Castellanos Pfeiffer

Doutorado em Linguística - 2023

Nro. chamada: TESE DIGITAL - R528L


Resumo:
Esta tese é fruto da minha busca por compreender o funcionamento dos discursos de e sobre refugiados na relação entre o espaço de partida, o lá, e o que emerge aqui, na chegada. Interessa-me analisar os dizeres que circulam afetados por uma memória sobre os lugares de onde saem aqueles que buscam refúgio, produzindo tensões no contato com o imaginário atribuído ao lugar da chegada. Nessas condições de produção, a posição sujeito refugiado ? que diz a partir de um discurso de refugiado ? se instala na contradição com a posição do sujeito institucional, jurídico, religioso, humanitário, midiático que diz sobre refugiado, em um movimento equívoco de resistência a e de identificação com essas posições que ora reafirmam os sentidos estabilizados, ora produzem sentidos outros em sua discursividade. Neste trabalho, jogo luz ao significante refugiado, observando os processos nos quais operam a inospitalidade, a estereotipia, a xenofobia, o racismo e o silenciamento num discurso transverso que estabiliza os sentidos, fazendo com que aquele que vem de lá seja significado dentro de determinada região de sentidos. Ancorada na Análise de Discurso, a partir dos estudos elaborados na França por Michel Pêcheux e dos trabalhos desenvolvidos no Brasil por Eni Orlandi e outras(os) autoras(es), busco mobilizar noções discursivas pertinentes ao diálogo que estabeleço com o arquivo de análise, bem como propor novas formulações, tais como a noção de um discurso sombra, que emerge do próprio discurso sobre, num funcionamento que reforça efeitos de vitimização e inferiorização dos refugiados. Num movimento pendular entre teoria e análise, parto de um relato sobre a motivação que me leva a aprofundar a pesquisa e uma apresentação de possibilidades para a realização deste percurso. Em seguida proponho dois grandes momentos de reflexão em que o primeiro focaliza a tríade lá, entremeio e aqui, e o segundo gira em torno de uma data específica: o Dia Mundial do Refugiado. Para isso, mobilizo um arquivo constituído por: (1) reportagens de jornais de grande circulação; (2) vídeos das campanhas realizadas entre 2015 e 2018; e (3) transcrições dos pronunciamentos realizados em 2015, 2016, 2017 e 2020. Em meus gestos de análise, detenho-me sobre as marcas que me chamam a atenção pelo modo como comparecem nos materiais, bem como por sua recorrência especialmente nos pronunciamentos. A exemplo do que me pega, destaco os dêiticos que apontam a ausência e indicam outros espaços de significação; o já-dito materializado nas reivindicações e o não-dito que emerge na posição do sujeito porta-voz; os números que não funcionam como estatísticas; as denominações que cristalizam sentidos; a negação; o desvio e a ruptura contrapondo-se aos efeitos de evidência; o deslize dos sujeitos entre o eu, o nós e o eles, entre o relato e o testemunho, trazendo à baila as coisas que devem ser ditas e outras mais, produzindo catarses e algo que compreendo como purgação testemunhal; e a imbricação entre a língua interditada e a língua mandatória que produz o furo por onde os sentidos escapam tomando outras direções e possibilitando outros modos de significar.

Palavras-chave: Refugiados; Discurso; Dia Mundial do Refugiado; Resistência

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