Resumo: Este trabalho procura tecer uma análise comparativa entre uma obra modernista – Parque Industrial (1933), de Patrícia Galvão – e uma contemporânea – Inferno Provisório (2016), de Luiz Ruffato –, considerando-se a maneira como a classe operária é encarada como objeto mimético em ambas. Tendo sido escritas e publicadas com um intervalo temporal de mais de oitenta anos, as obras constroem visões ora semelhantes ora díspares acerca da natureza da classe trabalhadora e, principalmente, revelam as nuances do impacto da modernização na configuração dessa parcela social. Com base nessa percepção, estes aspectos analíticos adjacentes se evidenciam e facultam sendas interpretativas: 1) recuperação das linhas conceituais que buscam explicitar a composição característica de tal classe, considerando o substrato sociológico e cultural de formação do operariado; 2) análise bibliográfica que se ocupe da crítica à modernidade e seus impactos desiguais em contexto brasileiro; 3) a contribuição política de ambas as obras no tocante à criticidade que encaram a sociedade burguesa de seus respectivos momentos, apontando as influências desse processo de modernização econômico-industrial na representação da classe operária ao longo do século XX; e 4) a análise formal do universo ideológico engajado de ambos os autores, de maneira a investigar como as diretrizes de tais posturas refletiram na produção de uma literatura preocupada com a classe subalterna em questão. Desse modo, a pesquisa espera que o confronto desses artefatos literários nos permita antever como a classe reagiu ao processo de modernização do país, seja de simples receptáculo das exigências institucionais dos “de cima”, seja de vítima da violenta marcha do progresso.

Palavras-chave: Galvão, Patrícia, 1910-1962 - Crítica e interpretação; Ruffato, Luiz, 1961- - Crítica e interpretação; Trabalhadores; Brasil - Condições sociais - Séc. XX