Resumo: A pesquisa propõe analisar a permanência, o resíduo, o contágio, um rastro de onça no Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, de Ariano Suassuna, que mitifica o enredo da obra numa simbólica perspectivista ameríndia, buscando explicar como a conjunção de pressuposições sobre a natureza da realidade, imanentes a um conjunto de práticas (como as xamânicas), a um conjunto de narrativas, a um conjunto de tradições e de visões, numa simbólica de onça aderente a uma cosmologia ameríndia, são tornadas símbolos, ressignificadas e cristalizadas no discurso de caráter mitificado empregado como cerne do enredo. A identidade narrativa engendrada no romance manifesta substratos do que seria o popular e o armorial, que ressoam à constituição daquilo que Suassuna denominara de civilização do couro, repositório simbólico no lastro de hibridações e mestiçagens entre o branco, o negro e o vermelho nos pardos sertanejos. A cosmogonia tapuia que se registra no romance acaba por se instituir como rastro identitário do herói trapaceiro, Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, narrador e personagem central da obra, cuja trajetória fora enredada pela representação da onça como figuração totêmica e teriomórfica ressignificada, potencializando um devir-onça como estratégia de abertura de si, um tornar-se outro que lhe permitiria adotar corporalidades às quengadas que armou como forma de se bater contra seus inimigos e de desmanchar as cifras de sertão.
Palavras-chave: Suassuna, Ariano, 1927-2014. A pedra do reino: e o principe do sangue do vai e volta; Identidade Narrativa; Indígenas - Usos e costumes; Nacionalismo; Memória coletiva