Resumo

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O Cemitério dos Vivos de Lima Barreto : o quilombo literário contra o manicômio-senzala

Vinicius Rosini Rufino

Orientador(a): Francisco Foot Hardman

Mestrado em Teoria e História Literária - 2022

Nro. chamada: DISSERTAÇÃO - R839c


Resumo:
Este é um trabalho de pesquisa acadêmico, sobre o escritor carioca Lima Barreto (1881-1922), o qual pode ser lido como uma dissertação, inserida no campo dos Estudos Literários. Seu objeto de estudo delimita-se a partir do romance inacabado O Cemitério dos Vivos (publicado postumamente pela primeira vez em 1953), o qual começa a ser escrito após a segunda internação de seu autor no Hospício (Hospital Nacional de Alienados), entre dezembro de 1919 e fevereiro de 1920. Esta obra é permeada por várias passagens autobiográficas. E conta a história (em primeira pessoa, através da voz de seu narrador-personagem, o qual narra de dentro do Hospício) de Vicente Mascarenhas, negro, funcionário público, que abdicou de se tornar doutor, e sonhou em consolidar-se como escritor, para combater, no campo literário, a ideologia hegemônica de teorias científicas raciais racistas e criminalistas de seu tempo e seus conceitos validadores e legitimadores de uma ordem social desigual, a rebaixarem, postularem e afirmarem pretensa “inferioridade” e “suscetibilidade ao crime” de indivíduos negroafricanos, perante indivíduos brancos, de origem europeia. Uma Sociedade Racista, do Estupro, Machista, Negacionista, Capitalista, Positivista, Homofóbica, Normótica, Fascista, intolerante à existência, à vida, às manifestações culturais e religiosidade de matriz negroafricana e indígena-brasileira, do povo trabalhador, assim como às de outras “minorias”, que representam, esmagadoramente, a maioria da população. Nesse sentido o romance decodifica um sofisticado, perverso, brutal e cínico sistema de dominação mantido pelo consenso e consentimento e pela coerção e coação de um Estado Penal Nacional (na forma de República Federativa “Figurativa” do Brasil), o qual consubstancia e manifesta a Ideologia Racista, através de seus agentes e instituições de controle e dominação sociais, públicos, privados e “paralelos”. E, enquanto uma instituição do Estado, o Hospício, coordenado pela Psiquiatria (saber, campo científico e Ideologia), e os médicos-psiquiatras, agentes que operacionalizam e são partes deste sistema, é uma peça fundamental para o funcionamento e manutenção deste mecanismo social, de arranjo societário sectário, vil e totalitário. Um dos objetivos desta dissertação, que também pode ser lida, em parte, como um ensaio autobiográfico, é, através de “espelho contra espelho”, com “reflexos” da minha história pessoal, espelhar e espalhar a revolta; e demonstrar como tudo isso se articula na prática e se desenvolve no cotidiano das relações sociais, em pequena, média e grande escala. Isso, não só fora compreendido, como sentido por Lima Barreto, autodeclarado “escritor negro”, é o que demonstra a sua obra, a qual, a partir do campo literário (espaço de resistência, “brecha” e “fissura”, não totalmente colonizado pelas Oligarquias e pela Burguesia Racistas), delimita seu local de fala, estrutura, articula e hasteia uma bandeira, e levanta um “Quilombo”, literário, de onde trava seu combate e resiste, não só contra o Manicômio-Senzala e seus agentes – mas contra o Racismo e o que ele representa – enquanto elemento estruturante fundamental da sociedade de classes capitalista-burguesa do Brasil.

Palavras-chave: Barreto, Lima, 1881-1922. O cemitério dos vivos; Loucura; Racismo; Manicômio

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