Resumo: Essa tese investiga a representação da consciência em Ulysses, de James Joyce. É ponto relativamente pacífico na crítica o argumento de que o romance pode ser dividido – além das três seções que correspondem à lógica da Odisseia – em duas partes que compreendem o desenvolvimento de um estilo inicial e sua posterior dissolução. Logo depois de alcançar um grau de verossimilhança psicológica até então inaudito na história da literatura, Ulysses recorre a uma experimentação estilística que expõe a falsidade da ilusão antropomórfica. A partir desse pressuposto de base, essa tese se propõe a 1) descrever o estilo inicial como um conjunto de técnicas narrativas legadas pela tradição e combinadas de uma maneira extremamente ágil, 2) vincular os efeitos dessa especificidade formal tanto a uma profunda estrutura de indeterminação do sentido, quanto a uma evolução do discurso indireto livre, 3) identificar as especificidades do monólogo interior do Ulysses, 4) traçar uma genealogia do monólogo interior na história da literatura, 5) descrever a dissolução do estilo inicial a partir da assunção de que ela significa um retrocesso técnico do ponto de vista da representação da consciência, o que implica o aparecimento de uma estrutura de auto-interpretação e comentário. Essa estrutura propicia tanto um novo meio de acesso a interioridade dos personagens, quanto uma abordagem por vezes paródica do conteúdo acumulado a partir do próprio estilo inicial do romance. A hipótese central a ser defendida é a de que a segunda parte do Ulysses faz com a primeira o que a primeira fez com a tradição: uma apropriação transgressora.

Palavras-chave: Ulysses; Ficção; Modernismo (Literatura); Monologo interior na ficção; Representação da consciência