Resumo: Durante o século XIX a Revolução do Haiti surpreendeu a Europa e a América pela sua imprevisibilidade. Homens brancos dos dois lados do Atlântico nunca imaginaram que homens negros, escravizados, seriam capazes de se unir contra nações europeias para declararem a própria independência. Quando o Haiti atingiu a independência as elites letradas da Europa e da América precisavam explicar para si mesmas o que havia acontecido; nesse momento começou a se propagar entre as narrativas que construíam protagonistas negros o espírito revolucionário negro. A França, diretamente afetada pela revolução haitiana, foi responsável pela criação de diversas obras literárias com esse espírito revolucionário e como era comum no período suas histórias chegaram de paquete no Brasil e nos Estados Unidos, países ainda muito marcados pela escravidão. Tanto Brasil quanto Estados Unidos leram e ressignificaram essas histórias, sendo que uma autora norte-americana conseguiu superar o paradigma do negro revolucionário com uma nova imagem literária: o cristão resiliente. Rapidamente A Cabana do Pai Tomás espalhou-se pelo mundo com um novo modelo de ver o papel de negros na luta contra a escravidão. No Brasil, a maioria das obras literárias que tentam explicar ações de escravos se alimentam dessas duas vertentes. Essa pesquisa conta a história de como a revolução do Haiti integrou o universo imaginativo de autores franceses que pararam na América e inspiraram brasileiros e norte-americanos a criarem novos sentidos literários para a escravidão que viam internamente em suas nações.
Palavras-chave: Questões raciais; Século XIX; Literatura americana; Literatura francesa; Literatura brasileira