Resumo: A Tanach (i.e. Bíblia Hebraica), denominada pelos cristãos como Antigo Testamento, é um compêndio de livros milenar de caráter eminentemente religioso e histórico. O Sefer Shoftim (i.e. Livro de Juízes), livro prosaico pertencente à seção dos nevi’im, narra o período de atuação dos juízes/libertadores de Israel, na transição entre a escravidão do povo no Egito e o governo monárquico. Seja por seu caráter histórico ou religioso, tal material tem recebido grande atenção exegética durante todos os milênios de sua existência. Nos últimos dois séculos, a Bíblia Hebraica tem sido alvo de distintas caracterizações, sendo aplicados, consequentemente, diversos métodos interpretativos em sua análise, com base nas correntes científicas, filosóficas e literárias vigentes. O cenário atual é dividido, em caráter macro, entre aqueles que defendem uma visão naturalista/racionalista do livro e aqueles que ainda defendem seu caráter sobrenatural. Outros ainda, distantes dessa discussão teológica e filosófica, se voltam ao texto como material literário, divergindo, ainda assim, nas formas de percebê-lo e, consequentemente, em seus modelos de análise. Nessa abordagem ainda tímida, conforme indica Bar-Efrat (2003, p. 11-12), alguns proponentes mais destacados podem ser notados em língua inglesa ou hebraica (Cf. ALTER, 2007, p. 32-38). Em língua portuguesa, no entanto, há um mínimo de produção de estudos sobre o tema, sendo os conceitos majoritariamente acessados mediante poucas traduções de obras estrangeiras; locus que encerra a problemática e objetivos do presente trabalho (Cf. FERREIRA, 2008; LIMA, 2015; MAGALHÃES, 2008). Os questionamentos que são aqui instaurados, com tudo isso, são: Qual vem a ser, portanto, a constituição poética da prosa do Livro de Juízes e, por conseguinte, da Bíblia Hebraica? Como seu texto é construído e exposto a partir de sua estrutura morfossintática, estilística e semântica? Assim, o objetivo geral que norteia a presente pesquisa é a realização de uma análise da poética da Bíblia Hebraica, tomando como amostra o Livro de Juízes. Buscando alcançar esse objetivo, o presente estudo foi elaborado em três partes correlacionadas. Em primeiro lugar, a partir de uma extensa análise da literatura especializada, bem como de análise documental, foram elencados aspectos paradigmáticos que fornecem o sustentáculo teórico para a análise do texto. De posse dessa base teórica, em aplicação da metodologia descrita em seção própria, foi feita uma tradução comentada do Livro de Juízes na seção seguinte. A tradução foi feita mediante uso do códice de Leningrado B19a (L). Em esforços concluintes, a terceira seção encerrou uma organização e análise sistemática dos elementos poéticos mapeados na seção anterior. Mediante interesse didático, os elementos extraídos da obra foram organizados em três grupos distintos, a saber: questões linguísticas e estruturais; aspectos estruturantes da narrativa; e questões ideológicas e doutrinárias. Diante dessa exposição, foi possível mapear os elementos poéticos que constituem o texto prosaico desse livro e, como consequência, potencialmente, de todo o corpus.

Palavras-chave: Poesia hebraica (Bíblia); Poética; Crítica; Literatura antiga