Resumo: A escrita autobiográfica é capaz de situar e promover a incorporação de processos históricos e sociais demarcados pela memória ou por sua ausência, fazendo com que os sujeitos sejam capazes de ressignificar suas trajetórias por meio de uma reflexão sobre si mesmos. Nesta pesquisa, fazemos a revisitação da trajetória de formação de um sujeito periférico na Educação Básica e no Ensino Superior e também produzimos uma reflexão sobre nossas práticas docentes no Ensino Médio. O objetivo central desta pesquisa de cunho autobiográfico é o de compreender como o percurso de vida dos agentes sociais pode ser determinante para suas práticas sociais, que neste caso são representadas pela formação docente e atuação na Educação Básica em Oficinas de Produção Textual para o Exame Nacional do Ensino Médio. Para isso, propomos uma reflexão acerca da influência das estruturas sociais sobre as relações estabelecidas dentro do campo social escola, levando em consideração os aspectos sociais e econômicos que organizam essas relações. Como fundamentação teórica da primeira parte da pesquisa, alguns conceitos de base sociológica orientam o processo reflexivo proposto no trabalho. O conceito de habitus e campo social são utilizados para compreender a dinâmica das relações sociais apresentadas, além da figuração da má-fé institucional como mantenedora das assimetrias sociais; a apresentação dos conceitos de ralé brasileira e de segunda natureza, juntamente com o entendimento do processo de racialização e do racismo estrutural da sociedade brasileira, dão base para a compreensão da forma como nós nos circunscrevemos dentro de um campo social. Em um segundo momento, há a contextualização do trabalho docente realizado pelo autor da pesquisa, desde a sua formação docente até sua práxis pedagógica, orientada pela reflexividade, em uma escola particular de classe média alta. Para o estudo dos textos que compõem a reflexão da pesquisa e das ações realizadas no trabalho docente, à luz da Linguística Textual (LT) e das teorias freirianas de educação, buscamos demonstrar o processo reflexivo da linguagem como essencial para a construção de sujeitos autônomos e reflexivos; a importância do trabalho com diferentes gêneros do discurso para produção de textos socialmente situados; e a ação de intervenção nas produções discursivas em contexto escolar como promotora da autonomia e reflexão dos sujeitos. Por fim, sob a análise dos conceitos sociológicos, da LT, da educação emancipadora e reflexiva e dos documentos orientadores da prova de redação do Enem, é analisado o processo de atuação do autor do trabalho, em Oficinas de Produção Textual, para construção de um saber metalinguístico, crítico e metarreflexivo que ultrapasse os limites da produção textual em contexto escolar.

Palavras-chave: Autobiografia; Reflexividade crítica; Professores - Formação; Língua portuguesa - Escrita; Prática de ensino