Resumo: Os efeitos do contato dialetal na fala de migrantes, um tópico atualmente em expansão, ainda carecem de estudos mais aprofundados que permitam maiores generalizações. A maior parte das pesquisas sociofonéticas sobre esse tópico se concentra em variáveis segmentais, sobretudo em dialetos do inglês, havendo poucos estudos sobre variáveis prosódicas no português brasileiro. Este trabalho investiga os efeitos do contato dialetal na prosódia de vinte e dois alagoanos que vivem na Região Metropolitana de Campinas, em São Paulo, em comparação com uma amostra controle, com nove campineiros nativos. Dezessete parâmetros prosódicos foram analisados. A respeito de ritmo de fala, analisaram-se a taxa de elocução, a duração de grupos acentuais, a taxa de picos de duração silábica, a correlação entre a duração de grupos acentuais e o número de sílabas, e as métricas rítmicas VarcoV, VarcoC, nPVI-V e nPVI-C. Quanto à entoação, examinaram-se o desvio padrão da frequência fundamental (F0), o desvio padrão dos picos de F0, o grau de abertura dos picos de F0, a taxa dos picos de F0, o desvio padrão dos intervalos entre picos de F0 adjacentes; e a média e o desvio padrão das taxas de mudança positivas e negativas de F0. Este trabalho se propõe a analisar (i) quais desses parâmetros prosódicos mais diferenciam os alagoanos migrantes e os campineiros; (ii) em que medida a prosódia dos migrantes alagoanos sofreu alterações em virtude do contato com a variedade campineira; e (iii) se a idade de migração e o tempo de residência em São Paulo são capazes de prever o grau de acomodação prosódica à variedade campineira na fala dos migrantes alagoanos. As gravações dos participantes, feitas em entrevista sociolinguística, foram analisadas com uso de técnicas computacionais de análise acústica. Desenvolveram-se técnicas de alinhamento forçado para automatizar a segmentação fonética, e os pârametros prosódicos foram extraídos com uso de scripts no Praat. Analisaram-se os dados com técnicas estatísticas, à luz da literatura variacionista sobre contato dialetal e da fonética acústica da prosódia da fala. Os resultados mostram que os migrantes alagoanos e os campineiros nativos são similares na maioria dos parâmetros prosódicos. Diferenças significativas entre os dois grupos foram encontradas em oito das dezessete variáveis analisadas, duas rítmicas (VarcoV e VarcoC) e seis entoacionais (desvio padrão de F0 e de picos de F0, média e desvio padrão das taxas de mudança positivas e negativas de F0). No entanto, no caso das seis variáveis entoacionais, observou-se interação com o gênero (homem, mulher) dos participantes; diferenças significativas foram encontradas apenas entre migrantes e campineiros homens. A idade de migração correlacionou-se com as seis variáveis entoacionais na fala dos migrantes homens: quanto menor a idade do participante ao migrar para São Paulo, maior é o grau de acomodação prosódica à fala paulista. Nenhuma correlação com tempo de residência foi observada. Os resultados também mostram que fatores individuais são importantes para explicar a variação prosódica na fala dos migrantes, sobretudo no caso de variáveis entoacionais.

Palavras-chave: Prosódia (Linguística); Contato dialetal; Entoação; Ritmo; Migração