Resumo: A presente investigação trata de "Cupido e Psiquê" (Met. 4.28 – 6.24), célebre história (fabula) contada no romance Metamorfoses (Metamorphoseon libri) de Apuleio (125- c.170 d.C.), também conhecido como O Asno de Ouro (Asinus Aureus). O episódio em apreço por muito tempo foi considerado mera digressão, que perturbaria a linha narrativa de uma obra de entretenimento voltada para um público pouco exigente. Em contraste com essa visão, nosso estudo procura demonstrar, sob duas perspectivas complementares, a hipótese de que a história de Psiquê está profundamente conectada à obra que ela integra. Em primeiro lugar, tendo em vista a recente valorização da complexidade do texto apuleiano, vai-se analisar o estatuto do leitor das Metamorfoses. Para tanto, constata-se, inicialmente, o papel da curiosidade (curiositas) como fator de associação não somente entre as personagens, como também entre as narrativas e o leitor. Em segundo lugar, propõe-se a caracterização genérica do episódio em si como um romance. Sob esse viés, assumindo, na esteira de estudos modernos, a mescla de gêneros como um dos fatores característicos do gênero do romance, será analisada uma amostra da presença de outros gêneros (nomeadamente, drama e épica) nas Metamorfoses, inclusive na história de Psiquê. Além disso, uma breve comparação entre o episódio de Apuleio e o romance Quéreas e Calírroe de Cáriton de Afrodísias contribuirá para a percepção de "Cupido e Psiquê" como um romance dentro do romance Metamorfoses.

Palavras-chave: Apuleio – Crítica e interpretação; Apuleio – Metamorfoses; Psiquê (Divindade grega); Cupido (Divindade romana); Leitores; Ficção latina