Resumo: A poesia de Orides Fontela, ao estabelecer imbricações entre o sujeito e o real, experimentando-as a partir da relação entre poesia e filosofia (ou experimentum linguae poético), reivindica uma concepção de lirismo que congrega de forma exemplar uma aparente oposição entre emoção (geralmente ligada à lírica) e matéria (comumente relacionada à objetividade). Como uma espécie de “conflito tácito”, ou ainda inserido em um sistema de diferenças, o lirismo objetivo permitiria que tais eixos travassem um constante jogo de forças em que se reformula o estatuto da subjetividade lírica, por meio de um movimento que a lança ao fora de si. O sujeito é, portanto, deslocado de sua interioridade, descobrindo o mundo como alteridade (graças à estratégia poética que chamamos de semântica da proximidade) e, em certa medida, tornando-se também outro para si mesmo, no ato de experimentação das coisas do mundo.
Palavras-chave: Fontela, Orides, 1940-1998 - Crítica e interpretação; Experimentum linguae; Subjetividade; Lirismo; Objetividade